segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Mistérios da Fé


Há no poema Pavlovianas de José Paulo Paes uma estrofe que expressa pontualmente a construção de uma religião:

O mistério o rito a igreja


o rito a igreja a igreja


a igreja a igreja a igreja.


Uma religião é fundada em cima de um mistério. É inegável que o homem possua dentro de si uma dimensão transcedental, que não se contenta com a mortalidade. Essa mesma dimensão pode nos proporcionar experiências com o sagrado, com algo maior que nós que eventualmente pode ser enquadrado como uma divindade. Essas experiências são indescritíveis, são sentidas no terreno metafísico, transcedental, longe, portanto, do mundo material. Cada homem que passa por uma dessas experiências acredita ter alcançado uma verdade, uma mensagem que deve ser proferida. E assim, com base nos seus apontamentos, nasce uma religião.

Religião, do latim religare. Como o próprio nome diz tem como objetivo religar o homem á essa dimensão, á essa mensagem, principalmente por meio dos rituais. Uma vez no âmbito dos homens, a religião se torna instituição e toda instituição é passível de sofrer as influencias de seu tempo, mesmo no seu início. Não há maior exemplo que o contexto do imperialismo romano quando do surgimento do cristianismo e da situação da Península Árabica na época de Maomé.

O poema de José Paulo Paes nos lembra que uma religião pode acabar com essa experiência do sagrado através dos séculos por meio do apego á liturgias. E assim surgem as dissidências. Podemos encarar a Reforma Protestante como uma maneira de tentar reatualizar esse mistério dentro do cristianismo, bem como as medidas criadas por São Francisco de Assis anos antes. Mas é inevitável que a religião, qualquer que fosse, acabe por burocratizar o sagrado.

Não acredito que a religião seja a única culpada nesse processo, mas seus fiéis também. A responsabilidade e a vontade de sentir o sagrado deve brotar dos fiéis senão ele está professando uma religião vazia. Não quero aqui cair no absurdo de dizer qual é a melhor religião, se é o judaísmo, o budismo, o cristianismo, etc. A melhor religião é aquela que te completa melhor, que te proporciona uma melhor aproximação com essa dimensão do sagrado. Cada pessoa tem uma percepção diferente e uma personalidade diferente o que influi na maneira de experimentar o sagrado. Não acredito em igrejas, pois não vejo razão numa mediação entre o sagrado e minha pessoa, mas isso é minha opinião. Não sinto que posso sentir o sagrado de outro modo porque sou assim, outras pessoas apenas conseguem se forem á igrejas ou apenas meditando. Não estou julgando, cada um tem o seu jeito de lidar com essa experiência.

Assim sendo, vejo a religião como uma espécie de conhecimento sobre o sagrado e sobre nós mesmos. Mas precisamos tomar muito cuidado, estarmos ciente de onde começa o sagrado e onde começa a religião, de onde está a história de uma instituição, de um pensamento, o que for, e o mistério.

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