sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Estilo e História

Quando Truman Capote começou a realizar o seu projeto de criar um jornalismo que utilizasse técnicas da literatura foi amplamente criticado, afinal, sempre há preocupação de o escritor, em nome da literatura, abra mão em determinado momento da verdade.
Esse medo perpassou por quase todo o século XIX na cabeça dos historiadores. Discutiam se a história era então ciência ou arte e aqueles desejosos de ver seu ofício alçado ao prestigioso status de ciência tentaram amputar um pouco da complexidade e da estética do fazer historiográfico em nome de maior objetividade e parcialidade.
A grande questão aqui é até que ponto a forma (o estilo) influencia no conteúdo (a história). Atualmente diz que a história é arte, é literatura, pois alcançar a verdade é impossível. Sendo assim, o estilo e o conteúdo se casam perfeitamente, sem problemas. Eu, no entanto, não compartilho dessa visão e também não acredito que a história deva se resignar de sua beleza em nome da objetividade.
Michel de Certeau
Acredito, como Michel de Certeau, que a verdade total é impossível de ser atingida, mas podemos chegar a uma parte dela, a uma verdade parcial. Sendo assim a história é sim uma ciência. Mas como toda ciência ela tem uma parte de arte que, por ser uma ciência humana, tem um peso próprio e importante. Não devemos nos esquecer que o historiador também é um escritor, que ele apresenta o seu conhecimento munido de técnicas literárias que não precisam necessariamente ser esquemáticas ou cartesianas. Claro que pesa e muito o interesse de se fazer entendido pelo leitor, mas há várias maneiras de se fazer entendido.
Marc Bloch
Por fim gostaria de lembrar o conselho de dois mestres neste momento: Marc Bloch dizia, resguardemo-nos de retirar de nossa ciência sua parte de poesia e Lucien Fevbre, seu amigo, dizia que a história é como uma banca de peixes, onde os fatos históricos representam os mais diversos tipos de peixes, cabe ao historiador escolher qual irá levar para casa. Gostaria de subverter um pouco este último aforismo: a construção textual também é uma banca de peixes, onde o historiador escolhe qual o estilo-peixe que mais lhe satisfaz. Ele não deve se envergonhar de escolher determinado estilo, afinal a estilística faz parte de sua ciência, mas é imperioso que ele escolha e escolha, evidentemente preocupado em atingir o leitor, mas sem medo de ser feliz.

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