Subi no comboio
noturno, cansado do mundo. Sentei no primeiro acento vago que apareceu, um
coberto pela luz anêmica dos postes. Relembrava o dia – as partes ruins, claro
– e o conselho do meu pai: trabalho mata.
Mas algo estranho saía
da escuridão. Vinha em forma de ruídos mínimos que se uniram formando uma
melancólica canção. Era do meu vizinho de cadeira. Veja só, existe indícios de
vida ao lado!
Era triste, bem triste.
Qualquer história estava por trás dessa música e não é das mais banais. Vejo
pés cansados, sorrisos sinceros, mãos calejadas e algo mais. Mas que povo não
passou por isso tudo?
-Qual o nome dessa
música?
A resposta veio
esburacada de longas pausas.
-A canção de nós.
Só quando saímos do
túnel e a luz invadiu nosso decrépito veículo que percebi que não era uma
canção de nós, mas deles. Era um cara-de-cavalo, justo o tipo de mutante que
mais odeio. Dei a conversa por encerrada.
-Você tem sua canção?
Será que música de
boate conta? De qualquer maneira, dá inveja desse pobre diabo. Uma canção tão
boa, dá pra sentir a poeira dos anos nela, naquela boca suja. E eu não sei nada
próximo disso.
-Quando eu não ter
certeza, cantar. Se não sei quem ser eu, cantar. Mundo fica claro.
Minha canção? Pô, cara, eu não queria entrar em outra crise existencial hoje...
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