quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Pare, olhe, ouça, pense


Toda cidade deveria ter um cineclube. É um desejo não só meu, mas de colegas cinéfilos. Estudando um pouco da história de cinéfilos de outrora percebemos que existiam inúmeras dificuldades: conseguir uma cópia do filme, conseguir reunir todos, etc. Hoje a maior dificuldade é tirar o cinéfilo de casa.
Ora, podendo baixar todos os filmes a qualquer hora quem se habilita a assistir um filme no cinema ou na casa de fulano? Não é questão de ser nostálgico, mas sempre tenho como referência meus tempos de menino onde os cinemas não tinham se tornado ainda igrejas. Se o filme em questão já tivesse saído de cartaz, o jeito era esperar sair na locadora ou na TV. E quando saía, era o assunto na sala de aula ou numa roda de amigos. "Você viu ontem Parque dos Dinossauros? Vi, que massa, cara!".
E não se trata apenas de filmes. Com tantos sites, música é o que não falta aí esperando ser baixada. Aconselho lerem esse post do guitarrista Mateus Starling sobre essa característica dos nossos tempos. Adianto dizendo que ele coloca a questão nesses termos:O acesso extremamente fácil à música acabou por produzir um ponto negativo que é a falta de qualidade na audição. Um Mp3 player tem fácil 2 mil álbuns de música. A pergunta é: Qual o propósito de se ter 2 mil álbuns novos na sua coleção? A resposta vem a seguir: A situação é muito obvia, se você tem 2 mil álbuns te esperando e a ansiedade é enorme o que vai acontecer? Audição de má qualidade.
O tema aqui é bem nítido: a facilidade em se obter bens culturais como canções e filmes pode democratizar o acesso á artes, mas também podem mercantilizá-las, coisificá-las. E o tema não é novo - Walter Benjamin quando fala da perda da aura da arte nos anos 30 está se referindo a esse processo. Cultivar um espírito contemplativo não faz mal a ninguém e pode ajudar a diminuir um pouco essa apreciação frenética, que de apreciar tem só o nome.

Nenhum comentário:

Postar um comentário