domingo, 10 de fevereiro de 2013

Garimpando Django Livre

Adoro filmes em que precisamos catar aqui e ali suas referências. E Tarantino adora fazer filmes assim. Ou ele linka com histórias de seu próprio universo ou ele deixa pistas de quem o influenciou e olha que é bastante gente. Vou enumerar aqui apenas algumas delas que se fazem presente no seu último filme.

1) A cena inicial, com aquelas letras vermelhas e grossas, é uma alusão aos créditos iniciais dos filmes italianos de western dos anos 60, assim como os zoons bruscos e repentinos. Posso estar errado, mas as rochas e o deserto enchendo a tela me lembra muito os primeiros minutos de Indiana Jones e a Última Cruzada (1989): a imensidão árida e um grupo de pessoas mínimas, quase formigas, atravessando-a. Só que aqui não são escoteiros...;

2) Vamos aos personagens: Django está na cara. Apesar que nesta nova roupagem (e olha que muitos já interpretaram Django; de Franco Nero á Tomás Millan), Django se assemelhe mais ao detetive Shaft interpretado por Richard Roundtree que ao vingador de Corbucci;
Kinski como El Tigro.

3) Christoph Waltz é austríaco, mas no filme interpreta um alemão. Klaus Kinski era alemão da gema e fez muitos westerns. Destaco aqui Meu Nome é King (1971) e O Grande Silêncio (1966 talvez). King Schultz pegou emprestado desses filmes, respectivamente, o primeiro nome e o casaco de inverno de El Tigro (Kinski);
4) A chegada de Schultz tem um quê de Duelistas (filme estrelado por Harvey Keitel, ator preferido de Taranta) e Barry Lindon (1975) de Kubrick;

5) Ainda falando do dentista alemão, seu truque mais famoso - a arma que sai da manga - é uma alusão ao Sabata de Lee Van Cleef (que fez o personagem até onde eu sei em dois filmes: Sabata - O Homem que veio para Matar em 1969, e O Retorno de Sabata em 1971). Na continuação do Sabata de Van Cleef existe também um cavalo cheio de carisma. Mas seu nome não era Fritz e sim Prefeito;

6) Quanto aos irmãos Birtle, o mais velho, com suas citações bíblicas em momentos inoportunos, me lembrou o Julius de Pulp Fiction (1994). Mas me lembrou um outro cara também: Apocalipse Joe (1971). O personagem de Anthony Steffens, assim como nossos dois caçadores de recompensa, também levava a interpretação á sério;

7) Stephen, embora seja uma crítica a todos os negros retratados como servis no cinema americano, se inspira, pelo menos no visual, no protagonista de A Cabana do Pai Tomás, livro que foi adaptado para filmes e séries - e até para uma telenovela brasileira com Sérgio Cardoso fazendo o papel-título;
8) Nós todos sabemos que Tarantino gosta de dar a atores consagrados um tipo de papel totalmente diferente daqueles que está acostumado a fazer. Exemplo: John Travolta, o galã dos embalos de sábado á noite, se tornou um matador de aluguel em Pulp Fiction. Leonardo Di Caprio também ficou conhecido por interpretar bons mocinhos, no entanto lá está ele como o sádico Calvin Candie. Posso estar vendo pelo em ovo, mas o impacto de ver DiCaprio como vilão cria um paralelo com Henry Fonda em Era Uma Vez no Oeste (1968);

9) Agora, falemos das cenas: Django, depois de se render, é pendurado de cabeça pra baixo no galpão. Burt Reynolds deve ter se simpatizado com a situação de Jamie Foxx já que quando interpretou um índio transgressor em Navajo Joe (1966) ficou na mesma situação;
10) A morte de Candie é explicitamente inspirada na morte de Curly, o personagem de Jack Palance em O Mercenário (1968). A flor que se mancha de sangue, que poético!
11) O nascimento da Ku Klux Klan é uma referência ao Nascimento de uma Nação (1915), só que Tarantino, ao contrário de D. W. Grifith, pinta os encapuzados como ridículos e toscos. O humor dessa cena na hora me fez pensar em Monty Python. Só mais uma coisa: os inimigos do Django (1968) de Corbucci também usavam capuz - só que vermelho;
Quando Explode a Vingança: Leone explodiu a carroça, Tarantino se explodiu.

12) Falando em Django, quando nossos heróis chegam ao Mississipi encontrei ali uma possível alusão ao filme de Corbucci na presença da lama. É engraçado que o diretor homenageie não apenas nas cenas ou nos personagens, mas também nos cenários. A temporada em que passam nas montanhas geladas me lembrou na hora O Grande Silêncio (1966), também de Corbucci;

13) A explosão. Da fumaça surge a silhueta do protagonista, assim como acontece com James Coburn em Quando Explode a Vingança (1971);
14) A morte de Stephen: a mais escancarada de todas as referências. Tuco Ramirez, interpretado pelo genial Eli Wallach, finda Três Homens em Conflito (1966) deixando seu insulto ao Lourinho ou Blondie inacabado: "Sabe o que você é Lourinho? Você é um grande filho da..."

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