terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O Velho faz anos!


Devo ao Hélio Dantas minha eterna gratidão por me lembrar que Arthur Cezar Ferreira Reis faria hoje 117 anos, caso fosse vivo. Imagine que pesquisador displicente eu sou: esquecer o aniversário do meu objeto de estudo! Acontece que só agora estou saindo do clima do fim de ano.

Mas muito bem, falemos de Arthur Reis ou, como gostamos de chamá-lo, o Velho. Nascido em 1906 em Manaus numa família de posses consideráveis, afinal seu pai era dono do Jornal do Commercio e sua mãe era irmã do comerciante de borracha Cosme Ferreira Filho. Diplomado pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, o jovem bacharel retornava á sua cidade natal para ocupar um cargo no jornal do pai, no Estado ou quem sabe em ambos. Reis, contudo, tinha um interesse especial pela História despertado ainda no tempo do ginasial pelo seu professor de História Geral, cônego Israel F. Silva.
Em paralelo com seu trabalho como professor de História ora no Colégio Dom Bosco ora no Ginásio D. Pedro II, Reis desenvolveu uma pesquisa que resultaria no seu livro inicial, História do Amazonas (1931). Seu campo seria principalmente a História Colonial, ainda que também abordasse outros períodos. Sua tese original era a de que a conquista e colonização da Amazônia foi uma ação empreendida pelo Estado português com tamanho planejamento e eficiência que nos legara um imenso e rico território. Já nos anos 50, Reis desfruta do prestígio de ser um dos pesquisadores amazônicos reconhecido pelos centros culturais nacionais por sua competência e originalidade. Simultaneamente, ocupa inúmeros cargos públicos mais significativos. Dois exemplos: a chefia da Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia e do Governo do Estado. Nos dois casos foi indicado pelo governo federal.
Como superintendente, Arthur Reis deveria estudar e executar projetos destinados a solucionar a crise em que a região se encontrava desde que a borracha deixou de ser a coqueluche da economia local. No entanto, os poucos recursos destinados á tais projetos inviabilizaram a sua execução. Como governador, encontrou maior auxílio da União dessa vez, por um motivo muito interessante: estávamos vivenciando os primeiros anos da ditadura militar e a Amazônia tinha um papel especial no discurso de Segurança Nacional defendido pelos militares. Era preciso integrar, para não entregar. Integrar como? Desenvolvendo. 

Ao primeiro governador indicado após o golpe de 1964 coube o mérito de implantar projetos de modernização do porto e construção de estradas como Manaus-Itacoatiara, mas também a responsabilidade pela série de expurgos encetados contra a oposição ao regime. O próprio governador, em momento de fúria, se envolveu em duas crises: a primeira ainda em 1964 quando mandou a Polícia Militar cercar o prédio da Assembléia Legislativa, atraindo a ira dos deputados locais e chamando a atenção do governo federal; já a segunda ocorreu um ano depois quando Reis aposentou compulsoriamente o juiz Oswaldo Salignac por ter concedido habeas-corpus ao deputado Jaime Araújo, um dos líderes da oposição.
Nas duas ocasiões o Amazonas sofreu a ameaça de uma intervenção federal, solução empregada pelo regime a qualquer Estado que corria o risco de cair na instabilidade ou então se posicionar contra o governo central. No entanto, optou-se pela conciliação nos dois casos. Reis teve que voltar atrás e engolir o orgulho. Justificava suas ações afirmando que tanto os deputados quanto os desembargadores emperravam seus projetos e debochavam de sua competência, afinal ele era um professor de História apenas. Ensandecido, ainda teria mandado empastelar um jornal trabalhista que lhe desferia sérias críticas, zombando de sua imagem.
Curioso que o mesmo homem que incentivava a política cultural ao publicar obras, fundar a Universidade do Amazonas e incentivar festivais de música e concursos literários, também tinha essa faceta mais autoritária em certos momentos. Por essas e outras seu governo é ainda foco de muitas polêmicas. O próprio Reis ao fim do seu mandato deixou o Amazonas e se refugiou no Rio de Janeiro, cansado de tantas polêmicas. Antes de falecer nos anos 90, o historiador ainda teria passado pelo Mestrado em História na Universidade Federal Fluminense na condição de professor. Falecido em 6 de fevereiro de 1993, Reis deixou enquanto contribuição á História local uma obra vasta e dispersa em livros e artigos para a imprensa. Falar de História do Amazonas sem mencionar ainda que marginalmente Arthur Reis é quase inconcebível.

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