quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O que fazer?


A polêmica dos Guarani Kaiowá coincidentemente estourou uma semana depois da entrega do relatório do caso do massacre Waimiri-Atroari á Comissão da Verdade. Nele trabalharam pesquisadores de várias áreas, destacando-se o missionário Egydio Schwade que vem divulgando o acontecimento há mais de 30 anos.
Na década de 60 e 70, a construção da rodovia BR-174 (Manaus-Boa Vista) em terras dos Waimiri-Atroari. A estrada foi sendo construída aos poucos, entre conflitos armados e mortes. No entanto, o caso foi abafado. Primeiramente, eram os tempos do regime militar. Em segundo lugar, o isolamento geográfico (estamos falando do interior da Amazônia).
Passaram-se mais de quarenta anos. Veio a Constituição de 1988 prometendo uma mudança na relação do Estado nacional e a sociedade brasileira com as etnias indígenas. No entanto, os problemas continuaram. De lá pra cá, a questão indígena continuou se pautando ora em querelas como a recente sobre a Reserva Raposa do Sol, ora em tragédias como o tímido aumento da taxa de suicídios na etnia Guarani Kaiowá.

Hoje, contudo, a visibilidade é muito maior. Quando da construção da usina hidrelétrica de Balbina nos anos 80 a resistência contra o projeto era pequena, restringindo-se á lideranças indígenas, antropólogos e missionários. O caso de Belo Monte se tornou uma causa abraçada por artistas os mais variados, assim como a mudança do Código Florestal. No entanto, a pressão toda não serviu para arquivar o Código Florestal pró-latifúndio e quanto á Belo Monte, a situação continua a mesma. As escavadeiras já removem a terra amazônica.
A mídia tem acompanhado com grande afinco os julgamentos do mensalão, só agora, depois da carta enviada pelos líderes Guarani Kaiowá, que eles se tornaram o centro das atenções. Onde quero chegar: toda a visibilidade que o caso tem alcançado é sinal de que conseguiremos reverter o quadro delicado em que essa etnia vive?
Não sei se é pessimismo, mas tenho enxergado nas redes sociais uma espécie de terceirização da revolta. A indignação se torna alimento para comunidades e programas que produzem abaixo-assinados e manifestações. Não confio na militância digital. Se algum ingênuo que não conhecesse nenhum pouco da realidade brasileira visitasse a rede social tupiniquim estaria convencido de que nesse país todos são politizados e revoltados pela quantidade de mensagens de crítica social e mudança política.

Compartilhamos o sentimentos de indignação e terminamos o dia achando que nosso dever para com o país foi cumprido. Acredito que nada substitui a ação. Manifestações são importantes, mas não devem partir só de uma classe específica, que se acha mais "iluminada". Falta convencermos o resto das pessoas de que índio não é bugre (a velha imagem do selvagem ou do aproveitador indígena, difundida no imaginário de muita gente), de que a questão indígena diz respeito a todos nós, porque ela está intimamente ligada á problemas como a reforma agrária, identidade nacional, violência e sustentabilidade, dentre outros.
Os demais casos recentes demonstraram que de a opinião de artistas e intelectuais não é bastante, falta ainda o grosso da população entender porque o trágico destino que se anuncia para toda uma etnia é tão importante para todos.
Não sei muito bem como ajudar os Guarani Kaiowá, para além da "militância digital", mas posso garantir que quanto maior for o esclarecimento e quanto mais adesões a causa tiver, mais próximo estamos da resolução desse impasse.

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Recomendo o artigo da jornalista e escritora Eliane Brum, Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui.

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