segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Gigantes agora adormecidos


Hoje o mundo perdeu um de seus maiores historiadores.
Nem bem tinha aceitado a perda do grande Cyro Resende Filho, lá se vai Eric Hobsbawm. Se nesse canto do Atlântico a comoção se concentrou em São Paulo e Taubaté, dois centros onde a produção e atuação de Cyrão era ativa e reconhecida, a morte do historiador britânico repercutiu em todo mundo.
Hobsbawm (ou Roberval, segundo alguns amigos meus) faleceu com 95 anos, com uma contribuição incontável para a História. Sua série de livros sobre o capitalismo (de A Era das Revoluções a Era dos Extremos) são antológicos. Assim como seus ensaios.
Admirava muito Hobsbawm, principalmente pela sua erudição incrível. O homem parecia um banco de dados ambulante: sabia recitar de cabeça a Ilíada e conhecia todos os grandes e obscuros nomes do jazz norte-americano. Antes de ler seus textos tinha que me preparar para a viagem: uma hora estava em Istambul, então passamos para a Melanésia e antes do fim do parágrafo voltamos á Argentina. Poucos sabem, mas um de seus países favoritos era o Brasil. Seu amor fica mais explícito em A Era dos Extremos em algumas rápidas considerações sobre a nossa grande arte, o futebol.
Conhecimento aprofundado e poder de síntese, duas combinações poderosas que Hobsbawm possuía. Seu estilo era coerente e flexível, livresco e ao mesmo tempo dinâmico. Difícil de explicar. Só lendo mesmo.
Fonte: Angelo Rubim/ Almanaque Urupês.

Quanto á Cyrão, meu professor de História Antiga, Medieval e Econômica durante minha estada na Universidade de Taubaté (UNITAU), possuía quase as mesmas qualidades. Suas grandes obras (História Econômica  Geral, Economia Brasileira Contemporânea e Rommel, a Raposa do Deserto) revelam um estilo objetivo, coerente e dinâmico.
Polêmico, tinha uma visão de mundo bem peculiar. Suas considerações em sala de aula e fora já eram folclóricas na época. Diferente de Hobsbawm, considerado por muitos como neo-marxista, Cyro era gramsciano "na veia". Era confundido por muitos como um carrasco, mas na realidade era apenas um professor exigente. Graças a ele, dentre meus outros mestres, descobri uma concepção de História nova que hoje tomo como bandeira também: mais importante que o fato é o processo, mais importante que a "decoreba" é entender.
Do ponto de vista acadêmico, essa semana começou melancólica portanto.

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