quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Notícias da "prisão de acrílico": tédio


Amor, não aguento mais. Tenho que ir embora daqui!
É tudo muito estressante. Você nem pode imaginar o quanto. Claro, preencher ofícios e assinar acordos não passa nem perto de se caçar meteoritos, mas ás vezes sinto como se estivesse cercado por eles. Tudo aqui é tão... tão estranho.
A embaixada, o planeta, tudo. Lá fora é uma selva, literalmente. Os edifícios desse grande e magnânimo império, veja só, são feitos de barro e fibras. Já nossa embaixada é basicamente feita de polímeros e limpada pelos robôs a cada três minutos de forma que ela se mantém assustadoramente limpa. Cada recanto, até o mais obscuro dela, brilha.
Sinto-me numa prisão de acrílico. Se desejar passear lá fora num belo dia de sol morreria em dois segundos. Primeiro, porque os raios ultravioletas do sol daqui me matariam, sem falar dos gases desse planeta. Segundo, minha circulação por esse mundo é controlada, sendo que aonde quer que eu vá tenho que pedir permissão ao Sr. Zanda.
Aliás, homenzinho sinistro esse Zanda. Você o conheceu na nossa despedida, era aquele senhor de bigode segurando uma pasta. Ele olha as pessoas de cima a baixo, medindo-as como se fosse o juiz do universo. Sabe qual o cargo dele? Chefe do setor de segurança. Ou seja, teoricamente eu mando nele!
Se ouvi a sua voz alguma vez foi sorte. Monossilábico, ao me ver apenas espere que fale aonde pretendo ir e ordena que seus oficiais me sigam. Merer disse que ele já foi da Horda dos Mercenários do quadrante T5. Pode até ser: tem uma cicatriz na altura do supercílio.
Saio do meu gabinete ás dezesseis. Nosso expediente é alargado um pouco por conta da rotação de Laconica: a cada cinco horas terrestre um dos três sóis desse sistema se reveza ao esquentar os miolos desses animais. Depois de duas "voltas", finalmente a lua de Quindor se torna dona dos céus de Laconica.
Nas primeiras "semanas" vivia com insônia. Hoje aprendi um truque: dormir meia hora em cada parte do dia. Não fico tão animado para que o trabalho chegue logo ao fim, já que em se tratando de diversões os reptilianos não são lá essas coisas. A saída que encontramos é reunirmos, cada semana, na casa de alguém diferente para conversarmos e jogarmos um pouco de telecinese de tabuleiro. Merer se entusiasma demais. Sua casa ficou conhecido pelo pessoal do escritório como "o casino de Laconica". Grande sujeito, tenho conversado muito com ele.
Mas já falei muito de mim. Você deve estar cansada de minhas reclamações. Me desculpe, amor, mas tenho que desabafar com alguém. E quanto ás novidades em casa? Como vão as meninas? Espero que seu irmão esteja melhor do resfriado. Talvez assim ele tire essa ideia de ser adestrador de sdorfs da cabeça. 
Mil beijos.
Do seu "pequeno momo".

Yaum al-Khamis de Rajab de 1561.
Embaixada Al- Fayed, Laconica.
Dr. Eli Rumat.

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