sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Santos pecados!

Tenho assistido a série OS BÓRGIAS no canal a cabo TNT e aqui estão algumas observações minhas:

Bórgias: quem são? Para os mais desinformados esse é o nome de uma família italiana de origem espanhola que na Itália da virada do século XV mandou e desmandou no Vaticano na figura do Papa Alexandre IV ou Rodrigo Bórgia para os mais íntimos.
E a série? Bem, ela é uma produção canadense-húngara e irlandesa. A maioria dos seus atores, no entanto, são britânicos - a começar pelo mais que talentoso Jeremy Irons. Iniciou em 2011 e sua terceira temporada já foi confirmada.

Os Bórgias devem tudo aos Tudors. Claro, essa afirmação não tem nenhuma lógica histórica: são contextos diferentes, personagens diferentes. Mas é que me refiro ao mundo das séries. Neil Jordan, seu criador, também produziu a série histórica sobre a família real inglesa. Os Tudors (2007-2010) foi um sucesso. Jordan, ao que parece, gosta de famílias polêmicas.
Eu já tinha ouvido falar dos Bórgias, mas como filme. Aconteceu o seguinte: a ideia inicial era mesmo ser um filme, mas Jordan convenceu os produtores de que uma série seria mais adequada para se compreender melhor os personagens. Com a audiência de seu seriado anterior, ele ganhou um argumento á mais.
Interessante - a história se tornou uma série, mas não perdeu seu status de superprodução cinematográfica. A prova disso é a própria presença do arisco Jeremy Irons, que nunca foi muito afeito á TV.

Sabe por que Irons concordou em se aventurar na telinha dessa vez? Porque ele amou o personagem. Seu papel é o de ninguém menos que de Rodrigo Bórgia. Isso mesmo, o chefão. Rodrigo é um homem extremamente caprichoso e manipulador, mas que nem por isso é menos humano. Suas crises de consciência em relação ao casamento da filha e sua predileção pelo filho do meio provam isso. Enfim, só o sujeito sendo muito bom para retratá-lo sem transformá-lo num santinho ou num super-vilão e Jeremy Irons é esse cara. Apesar de não ser nada parecido com o Alexandre IV (como mostra a iconografia), Irons tá fazendo bonito.
A série basicamente gira em torno de Rodrigo Bórgia. Parece que ele e o seu rival, cardeal Della Rovere (Colm Feore), estão jogando xadrez eternamente e nesse tabuleiro até seus filhos (sim, ele tinha filhos) são peças. Cesar Bórgia (François Arnaud) é nomeado cardeal - detalhe: ele tem 18 anos, e no mínimo nem chegou a ser coroinha - , mas o que ama mesmo é a política e a guerra. Lucrécia Bórgia (Holliday Grainger) é uma mulher linda, mas ingênua. Quer dizer, ingênua até conhecer o fardo de um mau casamento e as tentações de um namoro proibido. Já Giovanni (David Oakes) é o mais mimado de todos. Foi escolhido para ser o braço armado do pai.

Rodrigo vai selando alianças, eliminando oponentes e ditando destinos. Esse mestre das marionetes é o personagem principal, mas Neil Jordan não queria que seus filhos e até sua amante, Giulia Farnese (Lotte Verbeek), fossem ofuscados. Mas é inevitável.
Uma coisa que demorei a perceber é a complexidade dos temas envolvidos: estamos falando de corrupção, de sexo, de crimes, mas principalmente de família. Por incrível que pareça, Rodrigo parece ser um bom pai. No entanto, sua sanha por mais poder transforma os filhos em joguetes e eles tentam lutar contra isso. César quer largar o sacerdócio e pouco a pouco se transforma no guerreiro e líder que almejava ser. Já Lucrécia espera ser feliz e não ter de se ver com mais casamentos encomendados. Giovanni também reluta em alguns momentos, mas acha a ideia de ser um duque bem atraente. Ou seja, antes de ser uma quadrilha instalada no Vaticano, os Bórgias são também uma família. Há filhos renegando os planos dos pais, há assuntos inacabados, segredos, etc.

Essa humanização é outro diferencial da série. Nos últimos séculos a fama dos Bórgias tem sido de devassos, assassinos e corruptos. A série não nega isso, mas procura mostrar um outro lado. Ainda que goste dessa humanização dos personagens, sinto que ainda falta entrarem no clima do Renascimento.
Na reconstituição dos cenários e trajes está de parabéns, mas ainda não consegui identificar um sentimento de euforia, de altos e baixos (segundo Jacob Burckhardt, historiador mais famoso desse período) que caracteriza o período. Enfim, talvez esteja criando uma perspectiva muito grande sobre essa história...

Por privilegiar o pai a série se concentra nos conchavos políticos e intrigas palacianas. No final das contas, estamos falando de um mafioso de batina. Acho que esse é um acerto e um erro dos roteiristas: de um lado, o maquiavelismo seduz o espectador para o jogo político, pelo outro, só isso torna a história um pouco maçante. Não é nem a escolha do tema, mas o modo como apresentam a corrupção. É meio lento, pouco cadenciado. O primeiro episódio gigantesco é assim: a proposta é fascinante, mas tratada com pouca dinâmica. Se fosse um filme, por conta do pouco tempo, seria mais movimentado? Fica a pergunta.

No mais é uma série de boa qualidade. Um bom roteiro, grandes atuações (Irons, Grainger e Arnaud nos fazem afeiçoar por seus personagens realmente), ótimos cenários e um tema atraente.

Um comentário:

  1. Estou acompanhando a série.
    Já conhecia a história da família.

    Penso que deveria haver mais séries históricas, pelo menos dessa maneira as pessoas mais 'preguiçosas' conseguem aprender um pouco sobre o passado também. ^^

    Concordo com o que disse sobre Jeremy Irons no papel, está ótimo.

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