quinta-feira, 19 de julho de 2012

Saxofonista de shopping



Chegou. Era hora do almoço. Esse era o combinado. Deixou a bolsa no canto da mesa. Colocou o paletó. Agora a boina. Todos brancos, contrastando com sua pele. A gravata vem por último. Branca também.
Pega o instrumento. Lustra um pouco. Toca algumas notas, só para afinar o sax. Pede á atendente do balcão ali perto que cuide de sua bolsa.
Começa a tocar. Pela introdução é difícil dizer de que música se trata. O certo é que é chorinho. Lentamente entra na praça de alimentação. Agora sim a canção se desenrola em algo familiar. Os mais velhos (com bons aparelhos auditivos) saberão: Carinhoso. 
O som vai se deformando á medida que caminha. Não é culpa sua, mas dos garfos, dos risos altos e dos toques de celular. Todos se empanturrando de comida. Ninguém sequer olha para o saxofonista passando pela mesa. O mais estranho é que ele está sorrindo. Não é falsidade, mas uma forma estranha de felicidade mesmo. Um profissional calejado como ele sabe que essa é a prova de que é um artista de verdade. Pois essa é a sina do bom artista: ser invisível até se tornar ausente.

(10-06-2012)

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