sábado, 14 de julho de 2012

Reflexões caiçaras



Consciência Histórica. Esse é um dos temas mais repetitivos desse blog. Já o abordei aqui de várias perspectivas diferentes. Por que falar de novo então? Nunca é demais falar de um assunto essencial, ainda mais se o faremos por novos ângulos.
Bem, o que é ela? O que é a consciência histórica? Para ser curto e grosso, quando alguém tem conhecimento de como o mundo á sua volta, seja de forma geral ou regional, se tornou o que é hoje então dizemos que essa pessoa tem uma consciência histórica. 
Digamos que estamos em uma comunidade de pescadores. Há ali um senhor que está aqui desde o começo da vila e que portanto presenciou tudo o que aqui ocorreu. Esse senhor tem consciência histórica? Podemos dizer que sim, afinal, a experiência a construiu. Quem não viveu esse momento todo adquire como? Através das palavras do ancião, a não ser que um deles saiba onde e o que pesquisar pra saber a origem dessa comunidade.
Você já deve ter percebido algo. Consciência histórica aqui está muito próxima do conceito de memória. O que diferenciou história de memória por muito tempo foi a maior objetividade concedida á história. Hoje isso já é questionável, já que o paradigma da neutralidade foi derrubado. Ora, o historiador também pode idealizar um passado tal qual o ancião da comunidade caiçara faria.
Outra coisa: se alguém de fora chegar na vila e perguntar ao velho se ele sabe quem foi Getúlio Vargas ou o que está acontecendo no Oriente Médio e ele responder que não, ainda assim podemos dizer que ele tem uma consciência histórica? Depende. Sobre um recorte mais amplo talvez não, mas sobre o seu contexto, a sua vila, ele tem sim.

Nosso mundo hoje anda encolhendo e vilas caiçaras já possuem TVs e até internet. Um garoto da vila pode saber tudo o que tá acontecendo lá no Egito, mas não saberia dizer como surgiram as casas de sua terra. Aí temos o exemplo oposto. A consciência histórica regional é perdida. Com a globalização e o avanço tecnológico é muito mais fácil descuidarmos da vida em nossa terra. São tantas informações e tão fáceis de achar. Mas será que temos uma consciência do contexto geral mesmo?
As notícias nos chegam fragmentadas, afinal são notícias. A todo momento algo acontece. O acontecimento por si só é valorizado e as causas são deixadas de lado. O garoto lá na vila, vendo na internet o povo egípcio se libertar de um ditador usando redes sociais não sabe muito mais além disso. Ele tem noção da importância desse fato? Ele sabe que isso representa a queda de um modelo de política no Oriente Médio? Pergunte á alguém na rua o que está acontecendo no Oriente Médio e depois pergunte o que isso representa. Faça esse teste.

O que importa mais? A memória ou a história? O contexto geral ou local? O fato ou o processo? Acredito que todos esses elementos são complementares. A história se alimenta de memória, o geral e o particular se articulam e o processo gera fatos e vice-versa. Acredito que o mais importante aqui é entendermos que na construção de uma consciência histórica hoje devemos levar em conta a subjetividade, a espacialidade e casualidade. Aprendamos com a comunidade caiçara a refletir sobre nosso papel como educadores e historiadores.

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