quarta-feira, 6 de junho de 2012

Os lados do jogo II


Falava outro dia da questão da desigualdade. Há quem a considere uma diferença. Só pra ficar claro: a diferença é algo natural, é inerente ao homem. Todos nós somos diferentes, seja por causa da nossa anatomia, da nossa formação familiar, da nossa experiência de vida, enfim. A grande questão é se a desigualdade é inerente ao homem. Muitos dizem que não. Outros que sim.
Vamos dar uma olhadinha nos argumentos: alguns acreditam que o homem possui instintos primitivos dentro dele, como o egoísmo, o oportunismo. São difíceis de se apagar, porque são instintos: continuamos sendo animais, nós só damos desculpas mais bonitas para nossos rompantes selvagens. O egoísmo é um instinto? Privilegiar a si próprio em detrimento dos outros tem a ver com ânsia de sobreviver, princípio básico de todo instinto. Sendo assim, o homem tende a dominar o outro na primeira oportunidade que tiver.
Outros já acham que é possível superar esse instinto através do conhecimento. Nossa compreensão sobre nossa história, faria com que lutássemos constantemente para acabar com as dominações. Ou seja, a dominação é histórica, ela pode ser acabada como.
E há aqueles que juntam um pouco dos dois lados: reconhecem que a dominação, portanto, é parte de nossa natureza, mas a forma como ela se dá muda de contexto pra contexto. Não se pode acabar com ela, mas diminui-la dentro do possível. Como? Através de ações que impeçam um grupo de sobrepor seus interesses ao outro.

Vamos aos contra-argumentos: Para quem acredita que as desigualdades sejam indestrutíveis, muitos perguntam se isso é apenas uma argumento criado para justificar sua inércia na luta contra elas. Para quem acredita que elas podem ser apagadas, pergunta-se como fazer isso sem substituir uma dominação por outra. E para o último grupo de pessoas, questiona-se como impedir que um interesse se sobressaia á outro, com mais recursos.
Se você é do tipo que faz conexões com coisas que conhece, na hora deve ter sacado que o último grupo está defendendo como projeto a democracia. Um sistema onde todos tem possibilidade de participar e com isso defender seus interesses. Só que, todos sabemos, que as democracias na prática não funcionam tão bem quanto na teoria. Existem grupos sociais mais ricos que fazem lobbys no poder. Outros grupos se tornam indiferentes á política ou não participam por serem desunidos.
Essa última questão é o objeto de estudo de muitos pensadores políticos moderados que foram classificados como social-democratas ou membros da Terceira Via (o termo foi criado na Europa para designar aqueles que não confiavam nem no liberalismo, nem no socialismo). Um deles, Norberto Bobbio, respondeu mais ou menos dessa forma: "eu sei que não é um sistema perfeito, mas é o melhor que temos até agora. O que temos de fazer para transformá-lo em menos desigual é conhecer melhor as regras do jogo e jogar".

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