quarta-feira, 11 de abril de 2012

"Haitianos GO HOME!"


Queria entrar nesse assunto há muito tempo, mas por falta de tempo sempre deixei para outra oportunidade: a imigração haitiana no Amazonas. Bem, não é novidade para ninguém que vive em Manaus que os haitianos em peso estão vindo para o nosso Estado. Eles saíram de sua terra por conta da instabilidade política e da miséria. O terremoto que destruiu quase todo o país ainda não foi de todo superado. Desde então estão migrando para países como o México e Venezuela. No Brasil é para onde vem a maioria. Por quê? Leis de imigração não tão rígidas e a aura que o país goza na América Latina. Pode parecer estranho, mas somos uma potência nessa parte do continente.
Desde os primeiros momentos começaram a marcar presença seja pela língua ou pela sua cor (embora a presença negra seja antiga em Manaus ela sempre foi pequena). Todo mundo nega, mas a cor é o que mais causa estranhamento entre a cabocada da cidade. Sem contar que há toda uma série de estereótipos sobre o Haiti em nossas cabeças (vodu, zumbis, etc.). Mas o discurso daqueles que são contra essa imigração em massa se foca mais no trabalho: segundo eles, os haitianos estão tomando as oportunidades de emprego do povo local.

Até o começo desse ano ouvia esse discurso da boca de gente comum, ás vezes na fila do banco ou no ônibus, mas foi só com o artigo de uma colunista social do higth society que ele foi verbalizado na grande mídia. Mazé Mourão em seu blog publicou um artigo que tinha como título o refrão da famosa canção de Caetano Veloso contra o racismo: "O Haiti não é aqui!" Logo surgiu uma série de pessoas defendendo a posição da mulher e outras atacando-a.
O que gostei dessa polêmica toda foi que o assunto foi abordado com maior seriedade pela mídia, seja ela da região ou fora dela. Claro, alguns jornais reafirmaram velhos preconceitos, outros conseguiram ir para além dos "achismos" e mostrar os dados por trás de todo esse lenga-lenga.
Nada mais típico que um país que se diz livre de preconceitos justificá-los por outros meios. No caso em questão, o pretexto é o roubo das vagas de empregos. Semanas depois de todo esse rebuliço foi apurada no Sistema Nacional de Empregos do Município (SINE) a quantidade de vagas de trabalho disponíveis e eis a grande surpresa: mais de 600 vagas dando bobeira. Claro que se tratavam de empregos com baixa remuneração, mas ainda assim são empregos. Falta de oportunidade não é a melhor desculpa então.

Ora, os imigrantes aceitam empregos com baixa remuneração e até empregos sem carteira de trabalho assinada porque não tem um conhecimento profundo da nossa língua, porque não conseguiram tirar todos os papéis necessários para ter seus direitos aqui garantidos e principalmente porque precisam sobreviver numa terra estranha.
Algumas entidades tem os auxiliado, como ordens missionárias da Igreja Católica ou comunidades evangélicas, é verdade. Mas muitas dessas entidades já faziam serviços parecidos de amparo aos pobres aqui na cidade há tempos, ao contrário do que dizem os anti-imigrantes.
Até certo ponto, concordo com o governador Omar Aziz quando ele disse que a prioridade do governo tem de ser a população local, afinal ele foi eleito por ela para ser seu representante. Agora se ele cumpre o seu papel são outros quinhentos. Em tese, ele deveria fazê-lo e ajudar a melhorar a infra-estrutura da região. A sua plataforma política basicamente é a faraônica Ponte Rio Negro que até agora tem ajudado a diminuir a distância entre as duas margens do rio, mas que por outro lado beneficiou mais os mesmos espertos de sempre que estão já demarcando suas terras do outro lado do rio. Vem especulação imobiliária aí. E ela vem vindo acompanhada de conflitos fundiários. Resumindo, como melhorar nossa infra-estrutura se os homens que deveriam fazer isso estão com os olhos em outra coisa?
O pior não são nem essas velhas raposas, que não tem feito muito por nós nos últimos anos, mas nós que continuamos a elegê-los. Como podemos culpar, então, um pessoal que está chegando agora pela péssima situação em que nos encontramos? E o que é mais engraçado: muitos amazonenses vão para o Sudeste do país para conseguir melhores condições de vida e muitas vezes são discriminados quase da mesma forma. A habitual reclamação do modo como os sulistas tratam o pessoal do Norte diante do modo como vemos os haitianos é até irônica.
Enfim, o Brasil pode até não ter adotado o rígido sistema de imigração dos EUA, mas a sua paranóia e xenofobia sim. O Amazonas nesse sentido tem, infelizmente, o triste fardo de ilustrar isso.

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