sábado, 22 de outubro de 2011

Família Vende Tudo

A comédia que chegou aos cinemas há duas semanas atrás atraiu algumas críticas. Primeiro, de que a mensagem tenha se perdido no meio de tanta graça e, em segundo, que a narrativa do filme lá pelas tantas se transforma em outra coisa.
Bem, eu acredito que este filme não deve ser encarado como portador de uma mensagem política social dura. Essa não era a proposta dele. O que Alain Fresnot queria fazer era uma comédia sobre amoralidade de uma família e os desdobramentos dela. É uma comédia, não é um tratado de sociologia sobre o Brasil moderno. Se bem que o filme fala sobre muitos aspectos interessantes da nossa atualidade de forma divertida. Não carrega em si uma conteúdo politizado, mas uma série de pequenas críticas, algumas escrachadas e outras mais sutis.
É gostoso de ver a naturalidade dos personagens, do mundo em que eles transitam. Tudo ali parece perfeitamente real (muitas vezes mais real que os próprios filmes realistas tentam fazer, esses sim carregando tratados sociológicos e filosóficos). O motivo é claro: a inspiração veio da realidade mesmo. A diferença é que a mensagem não deturpou um pouco dessa naturalidade, já que ela não existe aqui.

Por ser assim despretensioso, o filme não condena nenhum de seus personagens, pelo contrário, até se simpatiza com eles. É curioso porque envolvem estereótipos (o evangélico bitolado, a piriguete, o famoso safadão, a dona da gravadora falsa e mercantilista, o agiota temido, etc.), mas eles não são tratados como simples estereótipos. Em outras palavras, a comédia não tem um tom moralista.
As interpretações foram divertidíssimas. O iniciante, Raphael Nunes, como o irmão caçula que fuma e rouba como se fosse um bandido em miniatura tem cenas memoráveis. Caco Ciocler então, nem se fala: da pecha de bom moçinho para cantor brega cafajeste é uma transformação entanto (e hilária).
Mas o filme tem falhas e aí tenho que concordar com a segunda crítica. Perto do final, Fresnot dá para a sua produção um tom de comédia romântica. Algumas questões se perdem por aí (a história do círculo de giz, do revólver, da comitiva de carros indo para o pesqueiro, etc.). Eu vejo que ele poderia ter optado para continuar na gozação ou quem sabe partir para a esculhambação geral. Na minha opinião, o filme ficaria muito melhor. Mas, pode ser que o diretor tenha escolhido esse final para fazer uma homenagem irônica ás comédias românticas norte-americanas. Mesmo se for o caso, o filme desandou um pouco.
Mas, de qualquer maneira, é um bom filme. Ele cumpre o que promete: dar boas gargalhadas.

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