sábado, 24 de setembro de 2011

Tambor de Mina

Pórtico da Casa da Mina Reino de Daomé de Xapanã. Foto: Pai Jean de Xapanã.
Sábado passado eu e um grupo de colegas visitamos a Casa de Mina Reino Daomé Lego de Xapanã, na Cidade Nova, administrada por Pai Jean de Xapanã ou Toy Azondelo de Xapanã, para entender melhor essa religião de matriz africana que nasceu no Maranhão por volta de 1840 e que hoje existe em quase todos os Estados da região Norte (Amazonas, Maranhão, Piauí e Pará principalmente). 
A Casa de Minas vem da nação Jeje, enquanto a Casa de Nagô, como o próprio nome diz, pertence á cultura nagô. Por que então o nome Tambor de Mina? Mina era uma localidade na costa africana, onde hoje existe a República de Gana. Essa região foi batizada como São Jorge da Mina pelos portugueses que chegaram a construir um forte ali. Todos os habitantes dessas paragens recebiam o nome genérico de Mina, denunciando a sua origem e depois a sua nação.Por exemplo, existiam os Minas-jejê e os Minas-nagô.
A primeira manifestação do culto se deu em São Luís do Maranhão na década de 1840. Ali foi construída a Casa Grande das Minas Jejê (também conhecida como Querebantân de Zomandônu) e quase na mesma época uma Casa Nagô também foi erguida no mesmo bairro. Querebantân significa "palácio" na língua jeje, enquanto Zomandônu é um título real. Esse título pertencia á Maria Jesuína, que em terras tupiniquins era apenas mais uma escrava, mas que no Reino Daomé era a rainha Nã Agotimé, presa após a morte de seu marido e vendida como escrava graças a um complô político.
O culto é conhecido por seu comportamento muito comedido, ou seja, a maioria dos rituais são secretos. A própria transe é muito discreta e o simbolismo dos terreiros é enorme. Muitos classificam o Tambor de Mina mais como uma dança popular que propriamente uma religião, já que a dança é a parte mais divulgada sobre o culto. Na Casa das Minas o culto é mais restrito ainda. Nesse sentido, Pai Francelino de Xapanã foi um importante divulgador da Casa de Minas e do Tambor de Mina em si, ajudando a quebrar as imagens preconceituosas que muitas pessoas nutrem sobre essa religião. A prova maior de seu empenho talvez seja a fundação de uma Casa das Minas em São Paulo, ou seja, além do eixo Amazônia-Nordeste.
O universo do Tambor de Mina é muito rico e aqui não falei nem metade do que ele compreende. Nossa intenção é fornecer informações que sirvam de trampolim para futuras pesquisas de interessados. Esse foi um texto, portanto, introdutório. Pretendo falar mais sobre essa importante religião afro-brasileira tão forte aqui no Norte do país, mas, por enquanto, vou deixar vocês com algumas palavras essenciais sobre o Tambor de Mina:

-Assentamento: espécie de altar dedicado a um vodun em especial;
-Autuar: quando alguma pessoa está incorporando um vodun ou encantado diz-se que ela está autuada.

-Encantado: toda aquela pessoa que não conheceu a morte, que foi para um plano além deste sem ter passado pela morte. Chama-se encantaria o ritual em que se chamam os encantados ;

-Vodun: o equivalente ao Orixá na Umbanda, é uma entidade mais evoluída. Um encantado pode se tornar um vodun, portanto;

-Vodunsi: nome dado á pessoa que incorpora um vodun;

Obs: Tanto os encantados como os voduns, na maioria das vezes, se organizam em clãs, famílias ou "panteões" como diz o pesquisador Sérgio Ferreti. A maioria não tem origem nacional e possui alguma ligação com a realeza. Por exemplo, D. Sebastião, o nobre português que sumiu nas batalhas contra os mouros no Marrocos, e as princesas Flora, Luzia e Rosinha, de origem turca. Mas muitos também tem origem humilde e local, como a Família dos Botos, Índio Velha, Caboclo Pena Branca, dentre muitos outros.

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