quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Alguns hectares de polêmica

O Amazonas estava falido. Era o que muitos pensavam na década de 1920 quando as seringueiras plantadas na Ásia tinham finalmente superado as amazônicas. Mesmo assim ainda havia muito dinheiro circulando pelos Estados, mas para poucas pessoas. A família do governador César Rego Monteiro era uma delas. A corrupção e o nepotismo do governo Rego Monteiro é folclórica. Foi ela que motivou, segundo Eloína Monteiro, dentre outros motivos, o sucesso da Revolta Tenentista de Manaus em 1924.

Cézar Rego Monteiro
Uma das muitas tramóias de Rego Monteiro foi pedir um empréstimo aos Estados Unidos em 1922 dando como garantia de pagamento alguns hectares de terras do Amazonas. A oposição fez a história chegar até o governo federal que desaprovou imediatamente a medida. Rego Monteiro tentou se justificar dizendo que o empréstimo era para pagar os funcionários públicos e os norte-americanos poderiam compartilhar suas técnicas com os amazonenses para ajudá-los a superar aquela fossa em que se encontravam. A União bateu o pé e o governador teve de ceder.
No entanto, tal idéia continuaria na cabeça de governadores posteriores. Efigênio Sales, por exemplo, negociou com um deputado japonês (Tsukasu Uyetsuka) a fundação de uma colônia japonesa no Estado, ficando a crítério do político oriental o local em que ela seria erguida. Além de conceder alguns hectares de terra á um representante do governo norte-americano, Efigênio voltaria a conceder terras para criação de colônias japonesas em 1928, nas cercanias de Maués. A justificativa era trazer a disciplina dos japoneses para ajudar o Amazonas, além de, é claro, tentar saldar as dívidas com a compra das terras.
General Nélson Mello
Em 1930, o sucessor de Sales, Dorval Porto, reparte muitos acres de terra entre três empresas estrangeiras (duas norte-americanas e uma canadense): Amazon Corporation, American Brazilian Exploration Corporation e Canadian Amazon Company Limited. Essas empresas queriam verificar se existiam minérios na região, como carvão e petróleo. A maioria do estudos geográficos feitos no Amazonas e no Brasil sobre a região diziam que essa terra não teria qualquer minério precioso, tal como pensavam os conquistadores, portanto, Dorval não se preocupava em ter dado de bandeja para os estrangeiros algumas jazidas. O prazo de pesquisa e exploração era de 50 anos, podendo ser prorrogado. Só não o foi porque em 1930 a República Velha acaba com a chegada de um moço gaúcho muito carismático na presidência. O interventor escolhido para o Amazonas, o general Nélson Melo, abomina tal ataque á nossa soberania e anula o contrato em 1933.
Fiquei sabendo há algum tempo que um rico empresário europeu tem alguns hectares da floresta amazônica só pra si.  Não duvido nada que a resposta do governo para ter cedido esse pedaço de terra não terá sido "foi para saldar as dívidas".O historiador Arthur César Ferreira Reis dizia que a entrada dos estrangeiros na Amazônia não é de hoje e ela não acabará, apenas se refinará. Conceder terras é um aspecto muito explícito dessa penetração. Outro muito mais sutil pode ser o financiamento de grupos de pesquisa e de instituições de ensino. Todos sabemos que a ciência e a educação não são inocentes. E a Amazônia é cobiçada por motivos vários.

Existe um discurso que acompanha as pretensões imperialistas sobre a Amazônia. Ele basicamente diz que o homem amazônico não sabe administrar a riqueza com que convive. A maior prova seriam os altos índices de desmatamento, os trágicos confrontos de terra, a terrível poluição dos rios e etc. A solução seria transformar a região em um patrimônio da Humanidade, porto para qualquer país interessado em preservá-la. Uma espécie de Antártica tropical. Sabemos que a Antártica é um deserto de gelo, mas aposto que se ela tivesse as mesmas riquezas vegetais, animais e minerais que a Amazônia teria se tornado um deserto graças áqueles que juram protegê-la.


Não sabemos mesmo como viver com toda essa riqueza, ora a maior prova vem dos atos dos governadores relatados acima. Mas daí entregar nossa região á nações que não souberam lidar com suas próprias riquezas ecológicas é pular da panela para o fogo. Por que não conscientizar o homem amazônico? Por que não incutir nele o respeito pela floresta, pelos rios e pelos animais? A Amazônia seria preservada pelos seus próprios habitantes. Aí os "defensores" da internacionalização da Amazônia ficariam chupando o dedo. Essa solução, mais prática e mais eficiente, não é lucrativa para eles, por isso é sempre descartada. É um argumento que nunca aparece no seu intricado discurso.

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