quarta-feira, 14 de setembro de 2011

A Operação Historiográfica III

Vamos falar sobre as práticas e técnicas usadas pelo historiador em sua pesquisa. Em primeiro lugar, o que é uma técnica? É um dos tantos instrumentos que ajudam a pesquisa. A técnica diz respeito a um conjunto de saberes que aplicados podem nos levar a uma interpretação de determinado objeto.
O que denuncia o tempo em que foi feito certo estudo histórico são justamente as técnicas que o historiador usa. "Falando em geral, cada sociedade se pensa 'historicamente' com os instrumentos que lhe são próprios" (p. 78). Atualmente, a universidade não é tanto o lugar da técnica, porque elas se prestam muito mais á trabalhos teóricos (mais uma crítica de Certeau ás universidades francesas). A técnica repousa em cima de disciplinas em separado, "ciências auxiliares" como a arqueologia ou a paleografia, etc.
Para Certeau, a pesquisa fica numa fronteira. A fronteira entre o que é dado e o que é construído (ou, entre o natural e o cultural), porque a pesquisa é justamente pegar um determinado objeto e, através de técnicas, torná-lo inteligível. O objeto de estudo que é concreto, depois do trabalho do pesquisador se torna abstrato, simbólico também. Devemos prestar atenção justamente nisso: nesse processo de transformação do concreto para o abstrato que a pesquisa faz.

O historiador transforma seu objeto em História. Como ele faz isso? Através de alguns passos. O primeiro é a seleção das fontes. Quando se fala em fontes, qual o primeiro local que vem á sua cabeça? Os arquivos históricos, claro. Mas eles não existiram sempre. O arquivo histórico surgem na Idade Moderna criados por um grupo social, os eruditos, para uma função: colecionar raridades.
Sua função já explica muito do método de análise utilizado pelos eruditos: a análise quantitativa e restrita á certos tipos de fontes. Todo saber está ligado á uma instituição. No nosso caso, a História esteve ligada aos arquivos e á academia. Os arquivos são mais importantes no momento porque eles eram a base da pesquisa e, por isso, a base do saber histórico. Hoje o computador pode substituir os arquivos, pois ele pode reunir uma quantidade incrível de documentos em série. Voltaríamos á velha análise quantitativa? Certeau acha que não. Com o computador, a enumeração das fontes será mais eficiente e com isso poderemos enxergar não a quantidade, mas o sentido das fontes. As fontes, assim, se explicam por si só.

O alvo do historiador, não é mais a totalidade, mas o desvio. Significa que através desse trabalho de separação e enumeração de fontes que o computador faz, o historiador deve procurar aquilo que se sobressai. Aquilo que fica fora do comum. Por exemplo, um massacre de gatos numa oficina de tipógrafos na França pré-industrial ou um moleiro italiano que tem idéias interessantes sobre a Criação sendo avaliado pela Inquisição. O historiador não tenta mais dar sentido á História, mas a achar os seus desvios.
Isso muda até o status que a História tem perante as outras ciências. Ela passa a ser um laboratório para as teorias criadas em outras disciplinas, como a Sociologia ou a Economia. O historiador faz sua pesquisa, acha o desvio e vê se determinada teoria não é descartada por causa dele. A História vira o campo do particular.
No meio de tantas mudanças, algo continuou: o status crítico. Ela desperta uma consciência do presente. Sabendo das origens do mundo moderno podemos compreender melhor a atualidade. Mas a História vive na corda bamba: ela historiciza o presente e presentifica o passado. O passado é sempre explicado pelo presente, assim como o presente é explicado pelo passado. Nunca veremos esses dois como eles realmente são, mas como eles são representados por nós em determinado momento.
Para resumir, Certeau acredita que as técnicas definem uma ciência. No caso da História hoje, graças ao computador e interpretações epistemológicas, as técnicas construíram uma ciência destinada ao singular e á consciência crítica, sem nunca nos esquecermos que ela também serve aos propósitos de seu grupo social (os acadêmicos).

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