quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Hobsbawm na berlinda

Eric Hobsbawm
O historiador britânico Tony Judt, conhecido por seus estudos de historiografia e sobre História Contemporânea, lançou há um tempo um livro onde estavam artigos sobre história e historiadores. O nome do livro é O Século XX Esquecido. Li apenas um artigo desse livro, o que falava sobre Eric Hobsbawm.
Hobsbawm é conhecido como um dos historiadores marxistas britânicos mais famosos mundialmente. Seus livros sobre "as eras" fizeram sucesso fora da Inglaterra e seus trabalhos sobre identidade nacional, a classe trabalhadora e o marxismo também se tornaram antológicos.
Hobsbawm é tido como um dos mais famosos neo-marxistas, ou seja, intelectuais que fizeram uma revisão sobre o comunismo enquanto política e teoria filosófica e historiográfica. Existe uma corrente do marxismo que surgiu justamente após os anos 50 chamada de Eurocomunismo que retira a violência de uma ditadura do proletariado e inclui em seus projetos a democracia e o pacifismo. Hobsbwam, politicamente, é tido como eurocomunista.
Judt inicia o artigo falando isso tudo e muito mais. Lembrando dos méritos impressionantes de Hobsbawm (sua trajetória, sua erudição, seu poder de análise e sua fama). Depois parte para uma crítica que pouca gente teria coragem de fazer. O autor tenta entender como Hobsbwam pode continuar filiado ao comunismo, sem nenhuma crise de consciência após as denúncias dos horrores do stalinismo e da queda do Muro de Berlim.Ora, existem muitos intelectuais que são comunistas hoje. O comunismo não é uma peça de museu ainda. Acabamos de falar á pouco de como ele se modificou e se faz presente hoje. Judt está falando daquele comunismo ortodoxo, meio dogmático. Para ele, Hobsbawm, embora seja considerado um dos expoentes do neo-marxismo, ainda conservava traços dele.
O historiador britânico seria, portanto, um homem mais apegado ás idéias que ao povo propriamente dito. A maior prova disso seria sua escrita altamente erudita e sua posição altamente acadêmica. Hobsbawm, ao contrário de Thompson, fala para os acadêmicos. Se apegaria mais á teorias que á sentimentos. Tanto que em nome da luta de classes, segundo Judt, transformaria bandidos em heróis populares em um estudo feito anos atrás - uma atitude que lembra muito as ações do marxismo ortodoxo, dos anos do stalinismo.
Tony Judt
Tony Judt é um historiador um tanto polêmico. Polêmico porque faz observações ácidas sobre a historiografia inglesa e internacional. Essas observações carregam, na maioria, um pouco de sua posição política (de direita), mas também não deixam de estar amarradas á algumas meias-verdades. Quando chama Hobsbawm de mandarim comunista, por exemplo, está cutucando tanto os historiadores neo-marxistas como o eurocomunismo. Mas tenho de concordar com ele em alguns aspectos, como o afastamento do historiador britânico de um público mais amplo. Hobsbawm tem uma linguagem que utiliza muitos termos técnicos e muita erudição, o que faz com que a maioria de seus livros (excetuando-se talvez A Era dos Extremos, onde, por conta do tema mais atual, ele se faz mais dinâmico) sejam criados quase que exclusivamente para acadêmicos. Aqui, no entanto, cabe relativizar um pouco: afinal, Hobsbawm escreve para o leitor inglês. Qual o nível de instrução do leitor inglês comum? Ele é compatível com a erudição do historiador? Se não for, acredito que isso não deve diminuir em nada o respeito que devemos ter por Hobsbawm, afinal suas contribuições á historiografia são enormes. É até interessante, porque isso nos lembra que esse grande historiador também é humano.

Um comentário:

  1. Será mesmo que o nível médio do leitor inglês é tão alto como você pressupõe se fosse porque a crítica feita pelo Tony Judt?
    A Era dos Extremos é um livro para leigos como o próprio autor já o definiu e é bom mas uma coisa eu também concordo com o crítico de Hobbsbawn penso que ele deveria se aproximar mais da população como fez Thompson que é muito mais palatavel que o seu colega.
    Mas outra coisa quem o Judt pensa que é para recriminar o Hobsbawn pela opçãp politica dele pelo que eu me lembre a direita foi e é muito mais sangüinaria é só olhar o mundo e quem o controla.
    E terminando tenho uma observação em relação aos comunistas eles deveriam se preocupar mais em falar a língua do povo do que com o discurso acadêmico impregnado em suas obras que só serve e serviu para afastar o grosso da população de suas obras ai desse jeito conduzir as massas torna-se mesmo um fato utópico e outra quem disse que o povo precisa de ser tutelado para realizar as suas mudanças?

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