sábado, 9 de julho de 2011

Uma guerra revisitada

Nove de julho é feriado em São Paulo. Poucos saberiam dizer porque. Foi em nove de julho de 1932 que o estado de São Paulo se rebelou contra o governo de Getúlio Vargas, iniciando uma guerra civil que só terminaria em 23 de maio do ano seguinte. A data é celebrada como o começo da luta do estado paulista pelas garantias democráticas que Vargas ameaçava com suas medidas autoritárias. O livro São Paulo, 1932: Memória, Mito e Identidade dos historiadores Marco Cabral dos Santos e André Mota vai totalmente contra essa visão.
A primeira parte, dividida em duas, analisa como a maior parte da população aderiu á guerra através da eficiente máquina de propaganda paulista, enquanto na segunda parte somos revelados á teorias racialistas "pseudo-científicas" sobre o regionalismo paulista.
Já falamos antes aqui do regionalismo paulista e de como ele era defendido pelas elites políticas locais (tanto do PRP quanto do PD) por conta de pretensões políticas. No entanto, não foi ele, na visão desses dois autores, o que mobilizou toda a população. A máquina de propaganda utilizada pelos partidos paulistas foi feita para convencer a todos, pelos mais variados motivos, a lutar pelo estado. Entre esses motivos estavam desde a defesa de valores constitucionais até a simples demonstração de virilidade entre os jovens.
Na última parte do livro temos uma abordagem totalmente nova da Revolta Constitucionalista de 1932: através da medicina. Enxergamos aqui os médicos nos campos de batalha, tentando sobreviver com os meios precários que lhe eram dados, e médicos e cientistas dentro dessa máquina de propaganda, associando a vitalidade do paulista á condições físicas (presentes principalmente no homem branco).
André Mota e Marcos Cabral dos Santos estão enxergando a guerra de 1932 como um movimento multifacetado, assim como Luís Balkar Peixoto enxergou a Cabanagem, encontrando diferentes grupos sociais unidos não pela mesma causa, mas por várias causas.
Ao final do livro fica a condenação aos métodos alienadores dessa elite política paulista que fez milhares de pessoas lutarem por ela e o estímulo ao futuro pesquisador que procure por interpretações diferentes de eventos conhecidos, a revisitar velhos paradigmas.

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