quinta-feira, 28 de julho de 2011

Carmen Doida

O poema abaixo pertence ao livro Sarandalhas(1967) de Mady Benoliel Benzecry (1933-2003)e fala sobre uma personagem conhecida na Manaus dos anos 60 e 70, no tempo em que era normal pessoas com problemas mentais viverem no meio da população e se tornarem figuras folclóricas como Carmen Doida.


Carmen Doida. Foto: Antônio Menezes, 1977.
Carmem-doida
Mady Benzecry

Carmem-doida! Gritava
a criançada da antiga
praça da prefeitura,
a Carmem-doida endoidava
mandava banana pra todos,
cuspia a dentadura
xingava a mãe e a família
da garotada e berrava
os piores palavrões...

Carmem-doida! E a tua mãe,
está no hospício também?
"No céu! Seus mizerentos
rebentos do Satanás,
na paz do Senhô, ela está!"
E ia ao "Juizado
de Menores" se queixar!

"Seu juiz, não é prussive,
tanta, tanta bandalheira,
eu sou muié de respeito
e não ardimito brincadeira!
A gente tem de acabá
com esses moleque de rua,
já é a quinta dentadura
que eles me faz quebrá,
entonces esta, foi cara,
ganhei ela de natar
e tinha um dente de ouro
bem na frente, seu dotô
eles tem de me pagá!"

E lá se iam dois guardas
a garotada autuar...

Um dia, foi no Natal
uma "vaquinha" correu
na praça da prefeitura
e Carmem-doida ganhou
um presente dos meninos
com cinco dentes de ouro
uma nova dentadura!

E desde então Carmem-doida,
muito mais doida, ficou...

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