sexta-feira, 24 de junho de 2011

Furacão na Botocúndia II

Roberto Peixoto nas eleições de 2009.
Nesta terça-feira, dia 21, o prefeito de Taubaté e a primeira dama (respectivamente, Roberto Peixoto e Luciana Peixoto) foram presos pela Polícia Federal. Também foi preso um ex-gerenciador de vendas. O trio é acusado de participar de um esquema de desvio de verbas no município - lembra daquela história do lobby das empresas de fornecimento de merenda que foi parar até na mídia nacional? Pois é, a Polícia Federal vinha organizado uma investigação sobre o caso desde 2009 e chamou a operação de Urupês.
Fica a pergunta:  se a investigação corre desde 2009, porque só agora Peixoto foi indiciado? Será que a reportagem que saiu no Fantástico e nos jornais do Brasil inteiro tem a ver com isso? Claro que tem. Ninguém pode negar o peso da mídia quando se trata de pressionar por resultados. Não tenho como medir o descontetamento da insatisfação do povo de Taubaté, mas sei que ela deve ser grande. Una-se isso á imagem negativa produzida pelas reportagens.
No entanto, na noite dessa sexta-feira, o casal foi liberado pela polícia graças á um habeas corpus. Não voltaram para casa, pois temiam a reação popular. De qualquer maneira, o simples atos do prefeito ser preso demonstra o quanto o município está desgastado. A prefeitura parece ter se tornado um feudo onde Peixoto e seus amigos governam há quase uma década. Desde a República Velha, o município faz parte da cadeia de clientelismos dos governos federal e estadual. As disputas políticas não saiam da esfera do município, contudo os votos seriam sempre dados ao governo federal e estadual. Assim, muitos homens foram entronizados em Taubaté. Chegamos a outro ponto interessante: o personalismo. Parece que com o tempo surgem uma nova liderança política sobre a qual se aglutina vários seguidores, mas que na realidade não traz algo de distinto de seu adversário a não ser em algumas propostas administrativas. É o caso dos Marcondes de Mattos, os Costas, os Guisard, os Ortiz e os Peixotos.
Os políticos eram clientelistas não só com o governo, mas com a população. A troca de favores, o apadrinhamento, eram ferramentas muito eficientes para angariar um curral eleitoral. No entanto, era inegável que o cárater autoritário das políticas municipais: a maioria pretendia extirpar a cultura caipira e rural e transformar Taubaté em um centro cosmopolita aos moldes de Paris. O povo,contudo, não conseguia se unir fortemente para combater a situação. As reações eram poucas. Estouravam como pequenas e rápidas explosões.
Hoje não temos mais uma política autoritária (pelo menos na teoria), mas o clientelismo, o apadrinhamento continua. Se antes, a política era inatingível, hoje ela é acessível. Nós que não vamos até ela. Não sei se por que a apatia e a indiferença virou tradição ou porque realmente não temos tempo com tantos afazeres e responsabilidades. O fato é que a cassação dos responsáveis por esse esquema (e de todos os tipos de esquemas de corrupção em qualquer lugar do Brasil) deverá ser feita por dispositivos institucionais, mas ela só será feita com a nossa ajuda. Com a pressão popular.
Eu me alegrei ao saber que o esquema foi denunciado e os responsáveis indiciados, mas ao mesmo tempo me preocupei. Me preocupei com o destino desse episódio: ele acabará em pizza ou não? Será apenas mais uma pequena explosão, como nos tempos da República Velha? Isso só o tempo e o povo dirá.

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