segunda-feira, 2 de maio de 2011

Os historiadores e a cultura

Bem, o título revela o que abordaremos no post de hoje.
Como vimos antes, cultura é um conceito muito vago e foi inicialmente pesquisado e debatido pelos antropólogos. E como ela foi vista pelos historiadores? Inicialmente, cultura era tida como um conceito ligado sempre á identidade nacional ou á cultura letrada ocidental. E, mais que isso, algo monolítico. Se acreditava que a cultura era algo atemporal e puro (o exemplo mais marcante está nos nacionalismos do começo do século XX).

Atemporal e puro. A antropologia, por meio de muitos estudos e pesquisas, desconstruiu essa imagem de que existe alguma cultura pura ou atemporal. A cultura, como dissemos antes, tem sua dinâmica. Se bem que em muitos momentos a antropologia desconsidere a historicidade da cultura (como no estruturalismo, por exemplo).
Esse é o maior problema que herdamos da antropologia quando tentamos falar de cultura e história, segundo o historiador Sidney Chalhoub. Na introdução de seu Visões da Liberdade, ele revela como foi difícil achar algum quadro teórico que considerasse a historicidade da cultura. Ronaldo Vainfas acredita que um primeiro esforço dos historiadores entrarem no debate sobre a cultura foi através do que ficou conhecido como História das Mentalidades. Conceito, aliás, criado com a ajuda da antropologia e da psicologia e que foi atacado por muitos por ser extremamente vago e interpretado como uma espécie de estrutura mental onipotente.
As falhas da História das Mentalidades foram reveladas por outros historiadores e fez com que seus adeptos migrassem para outros campos que, ao contrário das mentalidades, eram muito mais específicos, dentre eles a História Cultural, segundo Vainfas. Ainda segundo esse historiador, só existem três tipos válidos de teorias que englobam história e cultura - os outros seriam apenas idéias e temas desconexos. E esses tipos seriam os apresentados por Carlo Ginzburg, Roger Chartier e Edward Thompson.


Carlo Ginzburg
 O objeto de estudo de Ginzburg é a cultura popular italiana do séxulo XVIII e ele consegue enxergá-la através do pensamento inusitado de um moleiro que sabia ler. Ginzburg concebe a cultura popular como algo criado em oposição á cultura letrada, o que não quer dizer que não haja relações entre as duas. Muito pelo contrário, havia canais de interação entre elas, essa é a sua tese - a circularidade cultural.

Roger Chartier
Chartier trabalha sua teoria em cima do conceito de representação, entendo ela como todo tipo de simbologia. A sociedade produz representações que podem ser reinventadas. É essa reinvenção, ou apropriação, que talvez seja a maior característica da cultura popular. Em outras palavras, uma prática cultural pode ser criada para um certo grupo e com uma certa intenção e ser, depois, reaproveitada por um grupo diferente com as intenções mais diversas.

Edward P. Thompson
Thompson lembra o peso das classes sociais dentro da cultura. Entendendo cultura como um conjunto de valores e idéias não necessariamente coerentes, o historiador britânico acredita que a cultura possa ser tão importante quanto a economia ou a política quando se fala de movimentos sociais. Uma vez que a cultura mobiliza ações que podem ser tanto revolucionárias como reacionárias, como ele demonstra com seus estudos sobre a economia moral dos camponeses ingleses ou mesmo a festa organizada pelas comunidades britânicas para saudar os "cornos" locais.

Assim sendo, podemos colocar como características principais dos historiadores culturais essa tentativa de enxergar a cultura dos "vencidos" (daí a importância dada por eles á cultura popular), abordar a cultura sem excluir as relações sociais (principalmente a luta de classes) e ser plural (o que explica e muito o seu caos téorico) - e, acrescentaria Vainfas, a sua teimosia em rejeitar o conceito considerado batido pelos críticos de "mentalidades".

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