segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Uma visão da Era Lula



No mês passado, saiu um artigo muito interessante do cientista político Wanderley Guilherme Santos na revista Carta Capital (cuja versão digital pode ser visualizada aqui). O artigo é baseado numa pesquisa do próprio em censos e levantamentos de dados dos últimos oito anos. A conclusão a que chega o cientista político é de que Lula mudou os rumos da República derrubando alguns mitos criados pelo conservadorismo entre 1945 e 1964 que continuam vivos até hoje. Quais sejam: a idéia de que crescimento econômico sempre viria acompanhado de inflação. De onde saiu essa idéia? Da experiência do governo de Juscelino Kubitschek, onde o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu bombasticamente junto com o encarecimento dos produtos básicos. No entanto não foi isso que aconteceu nos dois governos de Lula:
A retomada do crescimento econômico veio acompanhada de inflação cadente e sob controle, acrescida de inédito aumento na massa de rendimento do trabalho. Em particular, o salário mínimo real dos empregos formais aumentou em 54% , entre 2002 e 2010, estendendo-se o número de trabalhadores com carteira assinada a mais de metade da população economicamente ocupada (...). A curva do desemprego, outro fantasma da excessiva prudência conservadora, apresentou uma evolução favorável, com taxas cadentes desde 2005 até o recorde favorável de 2010, quando a taxa de desocupação foi reduzida a 5,9 % da população economicamente ativa.

Além disso, com base em outros levantamentos, houve um maior cadastramento da população brasileira, o que poderá ajudar nos programas futuros do governo. A Justiça tornou-se mais acessível e as medidas implantadas pelo governo ajudaram a diminuir a pobreza e o preconceito no país, assim como suscitaram muitos debates na sociedade. Wanderley conclui:
Mas o pernóstico debate sobre o atribuído assistencialismo do programa ofusca o princípio ordenador das prioridades do governo e o sentido histórico dos dois mandatos do presidente Lula da Silva. Crescimento econômico, inflação sob controle, expansão do emprego e redução das desigualdades sociais são metas compatíveis, sim, entre si e com a democracia, desde que o governante adote política em harmonia com a agenda preferencial do povo - isto é, do povo de Lula.

Concordo com Wanderley em partes: o governo Lula, ao meu ver, seguiu uma cartilha econômica dos governos anteriores e inovou em outras partes, principalmente na "ousadia do crescimento econômico sem inflação" de que fala o cientista político. Quanto ás políticas públicas, é inegável que elas tenham algo de assistencialismo e politicagem, mas isso não deve ofuscar a outra face da moeda: a ousadia em propor tais medidas. Essas medidas realmente suscitaram e suscitam um debate enorme, principalmente as cotas raciais, o que, na minha opinião, é uma demonstração de que a democracia está deitando raízes em nosso país. No entanto, ela não foi a única coisa que se consolidou por aqui: a corrupção também. Se o governo Lula conseguiu superar um discurso conservador na economia não teve o mesmo sucesso em combater essa "instituição". Claro que mudanças nessa esfera são lentas, tão entranhada está a corrupção em nossa vida pública, no entanto, pode ser que o fortalecimento da democracia ajude a minar suas bases.

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