No mês passado, saiu um artigo muito interessante do cientista político Wanderley Guilherme Santos na revista Carta Capital (cuja versão digital pode ser visualizada aqui). O artigo é baseado numa pesquisa do próprio em censos e levantamentos de dados dos últimos oito anos. A conclusão a que chega o cientista político é de que Lula mudou os rumos da República derrubando alguns mitos criados pelo conservadorismo entre 1945 e 1964 que continuam vivos até hoje. Quais sejam: a idéia de que crescimento econômico sempre viria acompanhado de inflação. De onde saiu essa idéia? Da experiência do governo de Juscelino Kubitschek, onde o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu bombasticamente junto com o encarecimento dos produtos básicos. No entanto não foi isso que aconteceu nos dois governos de Lula:
A retomada do crescimento econômico veio acompanhada de inflação cadente e sob controle, acrescida de inédito aumento na massa de rendimento do trabalho. Em particular, o salário mínimo real dos empregos formais aumentou em 54% , entre 2002 e 2010, estendendo-se o número de trabalhadores com carteira assinada a mais de metade da população economicamente ocupada (...). A curva do desemprego, outro fantasma da excessiva prudência conservadora, apresentou uma evolução favorável, com taxas cadentes desde 2005 até o recorde favorável de 2010, quando a taxa de desocupação foi reduzida a 5,9 % da população economicamente ativa.Além disso, com base em outros levantamentos, houve um maior cadastramento da população brasileira, o que poderá ajudar nos programas futuros do governo. A Justiça tornou-se mais acessível e as medidas implantadas pelo governo ajudaram a diminuir a pobreza e o preconceito no país, assim como suscitaram muitos debates na sociedade. Wanderley conclui:
Mas o pernóstico debate sobre o atribuído assistencialismo do programa ofusca o princípio ordenador das prioridades do governo e o sentido histórico dos dois mandatos do presidente Lula da Silva. Crescimento econômico, inflação sob controle, expansão do emprego e redução das desigualdades sociais são metas compatíveis, sim, entre si e com a democracia, desde que o governante adote política em harmonia com a agenda preferencial do povo - isto é, do povo de Lula.Concordo com Wanderley em partes: o governo Lula, ao meu ver, seguiu uma cartilha econômica dos governos anteriores e inovou em outras partes, principalmente na "ousadia do crescimento econômico sem inflação" de que fala o cientista político. Quanto ás políticas públicas, é inegável que elas tenham algo de assistencialismo e politicagem, mas isso não deve ofuscar a outra face da moeda: a ousadia em propor tais medidas. Essas medidas realmente suscitaram e suscitam um debate enorme, principalmente as cotas raciais, o que, na minha opinião, é uma demonstração de que a democracia está deitando raízes em nosso país. No entanto, ela não foi a única coisa que se consolidou por aqui: a corrupção também. Se o governo Lula conseguiu superar um discurso conservador na economia não teve o mesmo sucesso em combater essa "instituição". Claro que mudanças nessa esfera são lentas, tão entranhada está a corrupção em nossa vida pública, no entanto, pode ser que o fortalecimento da democracia ajude a minar suas bases.
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