terça-feira, 3 de novembro de 2009

Civilização

O que Facundo de Domingos Sarmiento e Os Sertões de Euclides da Cunha tem em comum, além é claro de possuirem o status de as maiores e primeiras obras-primas das litetaturas da Argentina e Brasil, respectivamente? Ambos possuiem uma visão muito cara á história da sociedade latino-americana: civilização versus bárbarie.
Em um, o campo é a bárbarie e a cidade (o qual o maior exemplo é Buenos Aires) a civilização; noutro, o interior é a bárbarie e o litoral a civilização. Seria o caso de perguntar porque eles chegaram a tais conclusões. Sarmiento considerava o campo o local da bárbarie, do arcaico e do deplorável por ser o habitat dos caudilhos e da maioria da população nacional, cultivando tradições "ultrapassadas" e sendo manobrada pelos primeiros. Euclides não foi muito longe: para ele o sertão era um local inóspito e selvagem e o litoral o lugar da civilização. Porém, Euclides, diferente de Sarmiento, nutria um pouco de simpatia pelo sertanejo, por ele ter-se feito sozinho, sem ajuda do governo que se dizia o "Reino da Razão" e que agora vinha pela primeira vez até eles para esmagar uma revolta.
Se pensarmos bem, essa dicotomia era muito simples: é o embate entre o que somos e o que queremos ser (na época pelo menos). A Europa estava passando pelo imperialismo e pelo avanço tecnológico, a Segunda Revolução Industrial produziu uma fé desmensurada no progresso como o regenerador das nações e da humanidade. Por isso não é de se estranhar a importação de idéias e de pessoas (incentivo á imigração, por exemplo) do Velho Mundo para o Novo Mundo. No entanto, muitos dos nossos intelectuais foram cegados pelo ideal do progresso e da ocidentalização. Não conseguiram enxergar outros meios de desenvolver seus países e sua população. Se enveredaram pelo autoritarismo e o radicalismo. Se foram astutos em analisar a situação de sua gente, por outro lado, muitos foram arrogantes em se livrar de algumas limitações, como por exemplo o uso da força desnecessária. Sarmiento, por exemplo, grande crítico do autoritarismo e violência dos caudilhos, promoveu um verdadeiro massacre de índios na Argentina para desenvolvê-la através do branqueamento da população.
Mas essa é a verdadeira crônica da história da América Latina: no caminho do desenvolvimento (principalmente social) sempre andamos "aos trancos e barrancos", parafraseando Darcy Ribeiro.

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