Pesquisando outro dia os jornais das primeiras décadas do século passado, da excelente Hemeroteca Antônio Mello Júnior do Arquivo Municipal Dr. Félix Guisard Filho, me deparei com a notícia de um Congresso de Imprensa Regional que aconteceu entre 14 e 15 de novembro de 1928, em Caçapava e Taubaté respectivamente.
A finalidade do Congresso era clara: reunir os jornalistas do interior do Estado em torno de uma espécie de sindicato e promover uma maior interação desse "sindicato" para com a sociedade. Na segunda sessão, realizada em Taubaté, tais objetivos puderam ser definidos. Criou-se a Associação Norte-Paulista de Imprensa e apenas alguns dias depois ela já começou o seu trabalho coletando todos os números de todos os jornais de região para criar uma espécie de banco de dados. Se essa idéia frutificou não posso dizer ao certo porque ainda não me aprofundei nessa pesquisa.
Observando esse quadro vemos os primórdios da organização do ofício do jornalista em nossa região. Ofício esse introduzido, segundo a maioria dos historiadores, na segunda metade do século XIX e aprofundado com a riqueza do café e difundido pelo desenvolvimento do centro urbano. Em uma população de pessoas pobres, oriundas do campo e com um baixo nível de alfabetização é o caso de se questionar quem liam esses jornais. No entanto, a imprensa era, naquele momento, o melhor espaço para o debate político, seja pela sua simplicidade, seja pela falta de outros meios para isso.
A imprensa, porém, não era só espaço de exercício da cidadania, mas também a criadora de cidadania, uma vez que a maioria dos redatores e diretores dos jornais da cidade desejavam instruir a população, "civilizá-la". A imprensa fazia parte, portanto, de um projeto modernizador das elites locais, como bem foram em outras regiões do país e de América Latina, que na verdade era um processo de "civilização" para seus operadores. Essa concepção da imprensa como canal disciplinatório está implícito nos próprios editais de anúncio e comemoração do Congresso e nos discursos de seus oradores.
Olhando para os jornais atuais eu me pergunto se essa concepção continuou. Em alguns, nitidamente sim, em outros, ela está muito diluída. Não sei se por falta de recursos para tanto ou por falta de interesse mesmo. No entanto, os jornais atuais tem seus defeitos e suas qualidades.
Comparados com os jornais do começo do século XX, os quais o que mais predominava eram notícias do município geralmente relacionadas á política, os de hoje são muito mais abertos e diversificados. Há muitos que reclamam disso, que por serem cosmpolitas demais perdem a sua função que é informar a comunidade sobre o que acontece nela. A razão disso pode ser o contexto em que vivemos: afinal estamos em um mundo globalizado no qual a velocidade da informação é tanta que mídias tradicionais como o jornal correm risco de desaparecerem.
Avaliar um jornal de hoje em função de um da década de 1930 parece inevitável para qualquer observador da sociedade, porém, para o historiador fazer tal feito significa cometer um dos pecados capitais do ofício: anacronismo. Afinal, tudo que for estudado e avaliado tem que levar em conta o contexto em que tal objeto está inserido; seja na República Velha das oligarquias regionais ou no Brasil atual das multinacionais e multimídias, o contexto explica muito o caráter do que foi produzido nele.
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