sábado, 8 de setembro de 2012

Suburbanum I



O CABELO DA DISCÓRDIA
A indiazinha pinta o cabelo e o pai quase enlouquece. Ela não entende, só queria ficar mais bonita. Pra ele é um desrespeito ao avô que bateu o pé e ficou na aldeia pra não deixar de ser "parente". Loira de tinta, índia de sangue. E olha ali, mais conflito de identidade saindo do salão de beleza...

A COR DA FARDA
A família está feliz. Melhor, a mãe está feliz. Ver o filho ser fuzileiro naval, que orgulho! E esse uniforme verde oliva combinando com o moreno da sua pele até que ficou bem nele. Dá até gosto de falar nele agora: sargento Cunha!
Sargento Cunha aqui, em casa. Lá no quartel é Tição e Macaco. Está se segurando, mas não vai aguentar mais. Essa semana o coronel vai ouvir poucas e boas e o uniforme verde oliva vai ser apenas uma lembrança em breve.

A FEIRA DA MEMÓRIA
Uma senhora de casa, já com idade, sai para ir para feira. Saiu prevenida, levou o guarda chuva. Foi pega de surpresa pela nostalgia. No caminho a rua ganhou os terrenos baldios de antigamente. Quando viu estava pisando na feira dos velhos tempos. Ali vendendo peixes – de aquário, em saquinhos; de comida, no gelo. Um homem negro, sentado em frente de sua barraca improvisava versos sobre a abobrinha, o pepino, o taperebá e a fava. As crianças pulando entre as barraquinhas. O sol brilhando, castigando não. Os tecidos coloridos enfeitando as mãos e a cabeça do vendedor. As tralhas e bugigangas na carrocinha do moço do ferro velho. Cai no presente: só sobrou a velha quitanda da dona Thelma das Couves. Não precisa, já comprou as couves no mercadinho, mas vai lá assim mesmo: quer um quilo de saudade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário