domingo, 2 de setembro de 2012

Pesadelo N. 15: Mr. Darkness


Bocejava. Devia ser provavelmente umas duas horas da manhã. Estava tudo quieto. Só ouvia o som do elevador descendo. Fedor. Era o saco de lixo. Melhor levar agora do que pela manhã. 
Cheguei á garagem. Fui até as latas de lixo. Só sete carros na garagem. O vento assoviava. As lâmpadas eram muito baixas, deixando o teto no mais completo breu. Já tinha medo desse lugar de dia.
Quando estava voltando ao elevador. Um sussurro. Parei. Podia ser qualquer tipo de ruído, não necessariamente um sussurro. Podia ser um gato ou um rato. Ou um gato atrás de um rato. Nada.
Recomecei meus passos quando senti aquela respiração. Não parecia ser humana. Não parecia vir do chão. Não ousei erguer meus olhos, só apressei o passo para o elevador. Ele não estava mais lá. Já tinha subido para o quinto andar ou o raio que o parta.
O que fazer? O que fazer? 
De algum lugar do teto, uma voz saía. E o mais estranho: uma voz extremamente humana, lembrando e muito a de um senhor de meia idade. Ou de um locutor de rádio. Ela só dizia meu nome.
Na mesma hora, corri. Disparei para o portão da garagem. A coisa me seguia. Sabia porque ouvia o som de algo batendo nos canos atrás de mim. Tentei levantar o portão, não consegui. Gritei por socorro. Uma, duas, três vezes. A coisa estava próxima. Corri para o lado. Me escondi debaixo de um carro. Só me restava esperar pelo fim.
A voz voltou: Então... você tem medo do escuro.
Seja o que for tinha pousado ao lado do carro. Suas garras eram imensas, com curvas monstruosas. Um bico me acertou. Puxou-me para fora. Senti os dentes rasgaram a pele do meu peito e das costas. Fui atirado a alguns metros dali. A criatura foi se aproximando lentamente. Seu corpo e o breu eram um só. A única coisa que podia se ver eram seus dois olhos verdes e brilhantes.
Me arrastava. Parei exatamente na coluna em que uma lâmpada, que vivia piscando, estava. A coisa começou a tomar forma na medida em que era iluminada pela lâmpada. A silhueta era de um pterodátilo. O bico era cheio de dentes empurrando uns aos outros. Os olhos continuavam brilhantes. Estava certo que seria morto, mas minha mão tocou numa barra de ferro, resquício de uma reforma na garagem.  Avancei no bicho com ela. Atingi sua barriga cheia de pelos eriçados. Soltou um grito estridente, abriu as asas e se atirou nas sombras novamente.
Por um minuto, não ouvi nada. Ainda estava tentando digerir o ocorrido quando aquela voz...
-Acha que venceu? Acha que estou morrendo? Pode se iludir, meu amigo, se quiser, mas a verdade é que só conseguiu alguns segundos a mais (eu segurava com força o bastão esperando de todos os lados o possível ataque).  Tenho uma notícia para você: sou feito de escuridão e medo. Enquanto estiver nas sombras nada pode me deter. A luz pode me dar uma forma, pode me deixar vulnerável, mas as sombras... elas são meu sangue. Você pode ter me impedido agora, mas a noite está só começando...
Enquanto aquelas risadas secas se multiplicavam me deparei com o triste fato de que estava realmente naufragado naquela ilha de iluminação.

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