sábado, 15 de setembro de 2012

Cortaram a árvore, derrubaram a consciência

Foto: Ione Monteiro/ Amazonas Em Tempo.

As mangueiras no Terminal 1, na Avenida Constantino Nery, foram derrubadas. As vítimas seguintes foram as árvores do Largo São Sebastião. Não todas (ainda bem!), mas aquelas que ficavam logo depois da Banca de Revistas.
O ato já gerou uma onda de protestos nas redes sociais. O governo do Estado ainda não se manifestou sobre o assunto.
O que posso dizer? Os últimos dias foram de calor intenso e estamos derrubando árvores. Me parece que a lógica certa não deveria ser essa. Uma cidade como Manaus merece uma arborização bem cuidada. Na Zona Leste a falta de árvores produz um mormaço quase mortal. Num contexto como esse cada sombra é um oásis.
Vejamos a Avenida Getúlio Vargas, dona de frondosas árvores. Na hora mais quente do dia podemos desfrutar de uma bela brisa ali. Reconheçamos que o urbanismo da Belle Epóque podia ser etnocêntrico e excludente, mas ainda assim sabia equacionar bem as zonas verdes. Os boulevards que o digam. 
As obras faraônicas construídas pela cidade atualmente não parecem respeitar a vegetação nativa. Ou se utilizam no paisagismo plantas exóticas ou, pior, não se utiliza nada, conserva-se o concreto puro e nada mais.
O pequeno parque montado na Ponta Negra foi uma boa iniciativa, já não posso dizer o mesmo do chafariz na rotatória. Aliás, não só nessa rotatória como na "Bola do Mindu". Até parece que Manaus é uma cidade sem problemas de água para esbanjarmos tantos litros assim. Atentemos para as prioridades: água para a população primeiro, depois para o paisagismo.
Além disso, a mata do Parque do Mindu já fornece àquela área uma umidade relativa do ar. Um chafariz para amenizar o calor é o de menos. Ou seja, onde está a funcionalidade das obras em Manaus?
A funcionalidade e a fiscalização estão em falta. Entrevistas feitas com moradores locais apontaram que a cidade cresceu muito nos últimos sete anos, principalmente no plano vertical. Como diz Aldísio Filgueiras, daqui a pouco vamos estar vendendo metros cúbicos aéreos. Os edifícios tem proliferado espantosamente, sejam comerciais ou residenciais. Os preços não são baratos, até porque toda a rede de lobby feitas entre empreiteiras, prefeitura e imobiliárias demanda taxas altas para cada um dos topos dessa pirâmide.
Do que estamos falando? De pura e simples especulação imobiliária. Se os incêndios de favelas em São Paulo tem apontado que é possível que exista uma máfia imobiliária em terras tupiniquins, os assaltos no bairro D. Pedro e a proliferação de estabelecimentos comerciais ali não parece uma coincidência.
Foto: Michael Dantas/  A Crítica.

Em se tratando de trânsito, Manaus também não fica atrás de São Paulo. Os engarrafamentos habituais no horário de rush na Djalma Batista, Constantino Nery, Torquato Tapajós, Paraíba, Recife, Avenida Brasil, dentre tantas outras vias, estão se tornando via de regra. Aqui topamos com a falta de soluções do poder público, seja pela fiscalização ou pelas transformações na viação.
Mas sejamos sinceros: o governo não é o único responsável. O Plano Diretor da cidade é construído em sessão aberta á participação popular e o que mais se ouve ali são os zumbidos das moscas. Ok, as vontades dos tubarões sempre tem mais peso no traçado urbano, mas nós deveríamos ser mais incisivos na luta por uma cidade melhor. Enfim, que o luto por essas árvores nos leve á luta por uma cidade melhor.

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