sábado, 18 de agosto de 2012

Sobre cutucar feridas


Cada um tem uma imagem de como deve ser um historiador. Um homem preso no passado, deslocado no presente. Um velhinho cercado por uma pilha de papéis e livros em seu escritório. Ou um bicho grilo, alguém que viveu os momentos mais importantes da história de nosso país e os reconta.
Não estou aqui para dizer quais dessas imagens são válidas ou não, estou aqui apenas para falar de uma dessas visões sobre essa profissão: o historiador como o sujeito inconveniente que conta o que ninguém quer lembrar.
É algo de que Walter Benjamin defendia e Carlos Drummond de Andrade definia em seus versos. Para nosso poeta, ele "veio para contar o que não faz jus a ser glorificado". Ele escalpela "os mortos, as condecorações, as liturgias, as espadas..." Para o filósofo alemão, o historiador tem um compromisso vital com os vencidos, com todos aqueles que são apagados pelo discurso oficial na História, a história dos vencedores.
Assim, o historiador é pintado como uma figura extremamente importante. Importante e maldita, porque afinal ele se filia á todos aqueles que estão fora dos livros didáticos, das belas e limpas calçadas que a história oficial construiu. Ele mora no subúrbio da história, mas passeia pelas avenidas e boulevards dos vencedores segurando um cartaz ou então pichando um muro. Ele incomoda tanto como os mendigos e beatos que declamam suas profecias, lembrando que o fim está próximo. Ele, no entanto, diz: o fim da mentira está próximo.
Por quê? Por quê ele se põe em posição tão mal vista? Porque, meus amigos, ele sabe que um povo não é nada sem sua memória. Pergunte aos amnésicos. Alguém que se esquece de um truque, será enganado de novo. E estamos sendo enganados há tempos.
Ora, hoje dizem: está tudo bem, a história acabou. Quando não: a coisa tá feia, mas pior não fica. Ou então: não adianta fazer nada, não vamos conseguir. O historiador sabe que isso é tudo falácia, porque ele sabe que já foi dito isso antes e no entanto as revoluções, as grandes descobertas e obras primas mesmo assim foram feitas.
Benjamin e Drummond sabiam disso.

Um comentário:

  1. Vinícius,
    tudo bem?
    Só uma citação do Leonardo Boff já seria suficiente para seguir este teu espaço virtual.
    Agradeço a tua visita, e retorno com mais calma para uma leitura 'exploratória'.
    Grande abraço e ótimo domingo!

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