domingo, 19 de agosto de 2012

Louvação do mestre carpinteiro


Na roda, todos Josés, mas nenhum é igual. Zé da Catirina cria cabras e foi afligido por dois infortúnios: bicho de pé e casamento. Zé Quelé é sargento aposentado, não cansa de dizer, e vive no boteco. Refletindo sobre a vida, naturalmente. Zé Morcego é o dono da grande agremiação cultural da cidade, o boteco Praia da Lua. Até Zé Fortuna está aqui! Ele que vive sem dinheiro, mas ainda assim conta firula de que é parente de alemão e tem primo rico na capital. Até ele largou os seus afazeres na casa do cunhado para vir aqui hoje. Zezim Condeixas é o melhor sanfoneiro de N. Senhora das Neves. E também o maior paquerador. Só perde pra seu filho, Zé Vitor, galã de quermesse. O menino ainda não desenvolveu o charme do pai, ou seja, ainda não tem barriga. E Didico é famoso pelo baião de dois que faz. Chamado por muitos (incluindo aqui a mãe e a mulher dele) de "manjar dos deuses". Sim, ele também é Zé: José Frederico dos Santos de batismo, Didico de intimidade.
Até o José mais famoso - mais famoso que Zezim Condeixas! - está aqui: São José, pai de Jesus e padroeiro do trabalho. Trabalho que cada um desses Zés conhece muito bem. Hoje como manda a tradição, plantaram o milho e as sementes de gerimum pelo roçado. Agora chegou a hora de louvar o santo. Zabumba, triângulo e sanfona não podem faltar. E a cantoria vai até a noite. Ou até o baião de dois e a garrafa de pinga acabarem.
Os Zés louvam José e o santo louva os xarás profanos, desse e de outros sertões.

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