quinta-feira, 7 de junho de 2012

Demarcação da preocupação


Nos anos 80, falar de Globalização era ser otimista: viver em um mundo sem fronteiras. Que lindo!
Hoje, isso parece uma ingenuidade sem tamanho. Quantos países não tem suas fronteiras fechadas. Ora, o caso do Estados Unidos é o maior exemplo disso. Quem não conhece o drama dos imigrantes mexicanos que tentam atravessar a fronteira americana passou os últimos anos vivendo numa caverna.
Não há fronteiras para o capital e para informação, mas para as pessoas pouca coisa mudou. Como pensar num mundo sem fronteiras hoje com tantas ameaças? Tráfico de drogas, terrorismo, contrabando, etc.  Num mundo cada vez mais internacionalizado, as ameaças se tornam internacionalizadas também. 
Esse é um problema que nos afeta também: afinal, a grande crítica que se faz no combate ao tráfico no Brasil é relativa ao controle das fronteiras. A Amazônia e os pampas são peneiras furadas ainda. Mas nem todas as ameaças são criminosas.
Num mundo sem fronteiras, a xenofobia se tornou uma febre. Até nós que nos declaramos como anti-racistas somos contaminados (ou será que afloramos o que escondemos de todos?) quando de repente vemos milhares de haitianos tomando empregos pela cidade. Há quem diga que são abusados, folgados e por viverem em péssimas situações de vida podem se tornar criminosos. Qualquer um pode se tornar criminoso. E em relação ás características que lhes atribuem: será que encarar empregos de baixa remuneração é ser folgado ou agarrar oportunidades, diante de um quadro tão desalentador?

Enfim, a xenofobia é uma velha conhecida da Europa também. Ninguém encarnou melhor o espírito dos novos tempos como a Europa quando no final dos anos 80 decidiu se transformar em um bloco unido e coeso, para além das diferenças culturais entre as nações, em nome de uma maior representação econômica e política no cenário internacional. Estou falando da União Européia.
As diferenças culturais permaneceram. As políticas também. Mas quando se trata de defender interesses comum a todo esse continente, os países sentam na mesma bancada sem hesitar. Criaram o euro como forma de valorizar suas transações internas e por um tempo elas foram tão bem sucedidas que cogitou-se que ele tomaria o lugar sagrado do dólar na economia internacional.
A posição da União Européia em relação a política internacional também é coesa, com exceção de alguns casos (como o apoio da Inglaterra á Guerra no Iraque ou da Turquia no acordo diplomático do Brasil com o Irã). O que eles procuram é demonstrar que são agora um bloco tolerante, respeitando os assuntos de países externos. 
Mas, voltemos á vaca fria, mesmo com tanta compreensão e tolerância na política externa não se pode evitar que o povo de um país pense diferente de sua cúpula política. Ora, com todo esse cenário promissor na Europa muitos imigrantes se direcionaram para lá. Principalmente os africanos, antilhanos e árabes. A grande reclamação do povo europeu tem sido a invasão na cultura e nos empregos de seus países por essa massa de imigrantes.

Com as crises econômicas, aumentam o número de imigração e diminui a capacidade do governo de administrá-la. Com medo de uma imigração em massa de árabes (por conta da Primavera Árabe) e gregos (por causa da crise econômica) o presidente francês Sarkoky e o primeiro-ministro Berlusconi pediram uma revisão do Acordo de Schengen.
O que vem a ser o Acordo de Schengen? É um tratado assinado entre os países da União Européia onde eles reafirmam a sua cooperação jurídica e policial, o que leva a diminuírem o rigor do controle sobre as suas fronteiras. A Europa, em outras palavras, tinha se tornado um bloco sem fronteiras (volto a dizer, com algumas exceções). Houve até agora só uma oscilação no rigor, durante o momento após os atentados terroristas em Madrid, mas já tinha passado.
Sarkozy e Berlusconi pediram a revisão desse acordo, mas a reunião para realizar um novo tratado só foi programada para ser realizada agora, quando os dois já saíram de cena. A Grécia taí, agonizando. A França parece que mudou de ares. A Primavera Árabe não terminou ainda e se depender da Síria não vai terminar nem tão cedo. Ou seja, será que a Europa vai mesmo se fechar dentro de si mesma depois de tantas mudanças?
Enfim, as fronteiras e a xenofobia ainda são realidades concretas. Parece que a Globalização longe de acabar com elas, só as reafirmou.

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