domingo, 1 de abril de 2012

Quarenta anos de polêmica


Por ocasião dos 48 anos do Golpe de 1964 alguns militares fizeram uma manifestação no Rio de Janeiro em comemoração pela data. A manifestação foi furada por militantes de esquerda e estudantes que chamaram-os de torturadores, golpistas e ditadores. Resultado: pancadaria.
Esse infeliz incidente demonstra que pode ter passado mais de quarenta anos, mas o Golpe ainda continua fresco para muita gente. Na realidade, não existe um 1964, mas vários. Existe o 64 dos militares, o das esquerdas, dos políticos, do povo, enfim. Foi um momento dos mais conturbados de nossa História, portanto não podemos esperar que ele seja tão simples e fácil de ser definido. Na realidade, as Ciências Sociais no Brasil desde então vem tentando decifrá-lo, usando para isso métodos de fora ou mesmo se concentrando em períodos anteriores. Tudo para entender como o Brasil chegou a tal data-chave.
O que veio a seguir foram vinte anos decisivos para o Brasil atual. A minha geração não chegou a vivenciá-los, mas ainda assim teve um pequeno contato com ele, através de nossos pais e avós. Acredito que para nós também existam muitos sessenta e quatro. Nós temos agora a oportunidade de passar esses anos á limpo. A Comissão da Verdade é um passo importante nesse sentido, claro, se ela não for utilizada também como instrumento de manipulação política.
O que acontecerá? Descobriremos qual foi o verdadeiro 64? Duvido muito. Em História, nós bem sabemos disso, não existe a verdade total. As limitações para alcançá-la são muitas. O que podemos fazer é chegar em parte dela. Devemos nos lembrar também que a realidade não é maniqueísta, mas complexa. O grosso da História é feito não por demônios ou anjos, mas por pessoas comuns. A Nova História nos ensina isso: atenção para o homem comum! Ela nos pede que entendamos quem é esse homem e como ele pauta suas escolhas.
Talvez seja muita insensibilidade minha, um cara que não sentiu na pele aqueles anos, pedir para as pessoas, incluindo as que experimentaram esse momento, que cedam um pouco do espaço da sua carga emocional para a compreensão. Por isso dirijo meu pedido á todos que pertencem a minha geração, uma geração que já nasceu sob o égide da democracia, que não conheceu o radicalismo das batalhas ideológicas, que vive e respira tecnologia. Por favor, amigos, sensatez e compreensão. Não formemos nossa imagem de 64 sem pensar duas vezes no que ele representou para as pessoas que o viveram, para todas elas.

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