terça-feira, 17 de abril de 2012

Nós, loucos e "civilizados"


De uma conversa com o Prof. Almir Diniz de Carvalho Júnior no Museu Amazônico:
É interessante como o amazonense ou o amazônida de uma forma geral tem uma espécie de resistência em admitir suas raízes indígenas. Muitos aqui não se consideram indígenas apesar dos traços de sua ascendência serem visíveis. E o que é pior é que muitos sabem que sua família tem um pouco da presença indígena e mesmo assim optam por esquecê-la.
Almir nos deu um exemplo muito revelador: aqui no Norte ser índio é uma vergonha, enquanto no Sul carrega um pouco de charme. Por quê isso? Porque aqui a presença indígena é muito maior. Existem ainda muitas comunidades indígenas no Sul do país, mas elas não possuem uma dimensão tão significativa assim para a sociedade em geral. A maior prova é de que as discussões em relação á questão indígena se encontram mais no âmbito da universidade e não na mídia. 
Basta que algum povo indígena apareça impedindo a construção de uma rodovia ou de uma hidrelétrica que então percebemos que essa admiração exótica muda para racismo. O indígena aparece como anacrônico: um elemento do passado que está travando o desenvolvimento do país.
Na Amazônia a presença indígena é muito maior, por isso esse preconceito é muito mais evidente. O ideal do desenvolvimentismo não morreu. Ele taí. Onde quer que olhemos. É a defesa de um progresso material e não ético, humano. É a defesa da dominação da natureza e não da convivência com ela. Continuamos achando que as sociedades indígenas não tem nada a nos ensinar. Que o modo como eles reagiam com a natureza, que hoje muitos chamam de sustentabilidade, é algo datado, é algo do passado. Hoje, mesmo diante da constatação de que a natureza está em frangalhos e que se ela por acaso entrar em colapso todos nós morreremos também continuamos com o mesmo ideal. "Repetir sempre o mesmo ato e esperar um resultado diferente". Sabe o que é definido por essa frase? A loucura.

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