segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Aquele escorregãozinho


Na verdade, o nome dela é Simone de Beauvoir.
Ás vezes ataco de contista. Ataco mesmo. As baixas de guerra, contudo, são enormes. O que faço acaba saindo meio artificial, forçado. E não é nem pelas histórias. O problema é a forma como escrevo.
Faço um rascunho numa folha de papel. Até aí tudo bem, mas quando chega a hora de digitar mesmo. Aí o bicho pega. Na minha mania de não cometer erros de português a coisa sai toda engessada. E olha que mesmo assim ainda cometo erros crassos de português.
O que falta para mim é se convencer de que errar faz parte. Faz parte da vida. Quem nunca errou que atire a primeira pedra - não em mim claro, escolha um alvo de sua preferência.
Hoje percebo que não sou o único maníaco. Encontro nos amigos de faculdade o mesmo medo de errar. Ora, o problema não é errar, mas persistir no erro, parafraseando o famoso ditado. Todo mundo, por mais perfeito que seja, dá sua escorregadia.
Machado de Assis, o bruxo do Cosme Velho, um dos maiores gênios da literatura ocidental desse lado tropical do mundo, com um conhecimento esmerado sobre português, também cometeu seus erros de concordância aqui e ali. E o que dizer do papa existencialista Jean Paul Sartre que em visita ao Brasil, após provar água de coco, teria perguntado: "mas como vocês fazem para colocar a água aqui dentro?"
Ninguém está imune ao erro. Agora, viver no erro é outra coisa. Uma das coisas que me incomodava muito (hoje já me acostumei) é o desprezo total por nossa língua que vemos por aí a torto e direito. A nossa educação tem uma culpa mais que considerável nisso. O Brasil é campeão em analfabetos funcionais. O outro lado é a internet. Precisa-se falar rápido aí se comem as sílabas e coisa e tal. Eu até entendo. O problema é que muitos não vêem necessidade em aprender a falar e escrever direito.
Não faz muito tempo rolou aí uma polêmica sobre um livro didático do MEC que apoiava os coloquialismos e girias populares. Foi o maior bafafá: muitos enxergaram como a prova definitiva do populismo e da apologia á ignorância do governo. Eu não cheguei a ler o livro, por isso pouco posso opinar sobre o assunto. O que me deixou irritado foi a defesa da "língua culta" feita por alguns jornalistas nos debates. "A língua culta brasileira deve ser como a de Portugal" e outras aberrações desse tipo.
Sabemos que nosso idioma deve muito á Portugal, mas temos que ver também que nesses 500 e tantos anos nos afastamos um pouco da língua-mãe. O suficiente para podermos dizer que falamos "brasileiro", tamanha a diferença que outras culturas marcaram no nosso jeito de falar. Quanto á usar os coloquialismos, hoje eu não vejo problema algum nisso, desde que a pessoa também aprenda norma culta. Afinal, a norma culta é a que pode garantir um emprego em um estabelecimento rígido, em uma empresa. Cada ambiente tem sua linguagem própria: você não vai chegar para seu vizinho na rua e falar na "zona de conforto do processo empreendedorístico nipônico", assim como dizer em seu relatório ao chefe que "a situação ficou feia" não cai bem. Ao meu ver, o essencial é o cara se expressar bem. Para ele se expressar bem tanto na rua como no trabalho ele precisa conhecer a linguagem que estes ambientes demandam.
Enfim, precisamos trocar nossos óculos: tirar as lentes da oposição e passar a usar as da complementaridade. Tento ser menos perfeccionista e mais orgânico, seja ensaiando contos ou conversando com as pessoas. Erre e deixe viver, passou a ser meu lema.

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