domingo, 27 de novembro de 2011

Ações Afirmativas

"Porque, na verdade, as ciências sociais no Brasil - não vou dizer só a antropologia para não ferir suscetibilidades -, mas o problema é que parece que o problema racial no Brasil sempre foi um problema dos pretos. Florestan Fernandes, por exemplo, foi um aliado importantíssimo na luta contra or acismo, escreveu um livro em que ele disse que a escravidão teria deformado o negro brasileiro, teria incapacitado o negro brasileiro para se integrar socialmente, a anomia social, a coisa da disputa, a crítica a certas práticas que ele entendia que eram incompatíveis com a idéia de família, mas o que é interessante é que o Florestan, que era um marxista, não vai pensar na possibilidade de que a escravidão pode ter deformado o branco brasileiro.
Acho que o debate sobre ação afirmativa tem coisas interessantes: ele tira a branquitude do armário. Hoje há uma reação branca à ação afirmativa no Brasil. A branquitude - como um movimento político absolutamente articulado, organizado, que gere a economia, a política e as comunicações desse país com tranquilidade - vai botando as manguinhas de fora, digamos assim. Isso aparentemente tensiona mais as relações, porque até hoje quem foi para o microfone, quem foi para o debate público, foi a negritude - se eu for pensar a negritude como a antítese da branquitude. Agora, não; agora, o branco foi chamado para o debate público para ele dizer o que ele pensa das relações raciais. Está sendo forçado, na verdade, porque o debate sobre ação afirmativa força o branco a se manifestar".

Depoimento de Hédio Silva Júnior, advogado e militante do movimento negro em São Paulo, retirado do livro Histórias do Movimento Negro no Brasil: Depoimentos ao CPDOC. Organizado por Amilcar Araújo Pereira e Verena Alberti. (Rio de Janeiro: Pallas/CPDOC-FGV, 2007). p. 470.
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O livro de Florestan que Hédio menciona é o clássico A Integração do Negro na Sociedade de Classes (1964).

2 comentários:

  1. Me causa certo mal estar toda essa conversa sobre brancos/negros...eu sei que isso é uma realidade, um fato social, porém, talvez por eu ser da filosofia, e o pensamento não tem cor, eu me sinta deslocado nesse tipo de debate.

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  2. Se alguém me perguntasse há 2 anos atrás o que eu acho sobre tudo isso eu me declararia indiferente, porque nunca me interessou a questão racial. Foi de uns tempos pra cá, participando de um grupo de extensão da faculdade sobre alteridade, que despertei para esse debate. Porque quem está de fora da discussão acha que no Brasil não há racismo ou que a questão toda gira em torno do preconceito, eu pensava assim. Mas a gente percebe que é muito mais: é algo que tem a ver com a educação, a história e principalmente a identidade.
    Enfim, a coisa é muito ampla e só vem chamando a atenção ultimamente por causa das ações afirmativas.

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