terça-feira, 6 de setembro de 2011

Amazonas X Pará

Estátua de Tenreiro Aranha, primeiro presidente da Província do Amazonas, na Praça da Saudade.
Na segunda, dia 5 de Setembro, comemorou-se a criação da Província do Amazonas. Como já falamos da construção da província em outro post, gostaria de falar aqui hoje sobre alguns movimentos que anteciparam esse acontecimento.
Antes de se tornar independente era apenas uma comarca da Província do Pará (até 1833 foi chamada de Comarca do Rio Negro, depois passou a ser conhecida como Comarca do Alto Amazonas), mas já havia o desejo de se emancipar do Pará, seja por conta dos pesados impostos sobre os produtos levados ao porto de Belém ou pela falta de representação política que os locais possuíam.
D. Romualdo de Seixas, bispo e deputado paraense, já manifestava a defesa da independência da Comarca. Acreditava que o Pará teria que administrar uma jurisdição muito grande e problemática e o melhor seria mesmo a autonomia. Os ânimos se exaltaram quando o presidente da Província nomeou um comandante militar para fiscalizar a Comarca com rigor e concedeu poderes á Câmara de Barcelos, transferindo-a para o Lugar da Barra do Rio Negro em 1825. Tudo parecia levava á uma menor participação da elite local nos rumos da sua região.

O novo presidente da Província tentou apaziguar os ânimos retornando á Barcelos sua Câmara e destituindo o comandante militar que nomeou para comandar a Comarca. Em 12 de abril de 1832 ocorre um levante militar na Barra do Rio Negro por conta de uma rebelião da tropa que guarnecia a Comarca. Os soldados protestavam contra a falta de pagamento, o comandante militar coronel João Felipe dos Reis tenta puni-los e acaba sendo morto. O coronel Felipe dos Reis era um dos poucos representantes do governo que não era simpático á autonomia da comarca. Uma vez fora de cena, os políticos locais tomam o poder: Manoel Bernardino de Souza e Figueiredo, ouvidor, é proclamado o presidente provisório da nova Província enquanto o frei José dos Inocentes é escolhido para ser o representante dela na Corte.
Acontece que ao saberem da revolta, as forças legalistas, com medo dessa ser uma das tantas revoltas separatistas do período Regencial, manda suas tropas para reprimir o movimento.  Em 10 de agosto, a Comarca é tomada. Frei José dos Inocentes ainda estava em viagem para o Rio de Janeiro quando tudo isto aconteceu. Ele foi detido na Província do Mato Grosso e retornou ao Rio Negro em 1833.
Ao contrário do que as autoridades pensavam, esse não era um movimento separatista como o foi a Farroupilha no Sul do Brasil. Seus líderes apenas queriam autonomia do Pará e não do Brasil. Outro movimento aconteceria anos depois, esse muito mais radical: a Cabanagem.
A Cabanagem chega no Amazonas em 1836 e tem como líderes Bernardo Sena e o Capitão Antônio Freire Taqueirinha. Os cabanos tomam as vilas próximas de Manaus, como Luséia e Serpa. Só em 6 de março de 1836 que tomam Manaus e assim criam uma espécie de posto para as futuras expedições no Alto Amazonas. Os cabanos passaram a lutar entre si, Sena e Taqueirinha entram em conflito e o primeiro acaba sendo assassinado. Desestruturados, as forças legalistas conseguem atingir Manaus no dia 31 de agosto. Claro, que os revoltosos continuaram lutando pelo interior até meados de 1840. O curioso é que durante o domínio cabano, a Câmara de Manaus chegou a discutir a emancipação do Pará.

Porto de Belém do Pará
Como podemos ver, o desejo de se tornar independente do Pará não nasceu na década de 1850. E mais interessante ainda é que mesmo emancipado o Amazonas continuou dependendo do Pará para escoar seus produtos. A rixa entre os dois Estados perdurou por anos e um dos episódios mais interessantes dela é a anexação do Acre: o governo amazonense, através de Ramalho Cardoso Júnior, incentivava a independência da região em relação á Bolívia com o interesse de anexá-la a seu Estado, assim o Amazonas teria uma das zonas mais produtivas de seringueiras da região, superando a produção do Pará. Na discussão, o governo federal acabou ajudando o Pará ao transformar o território do Acre em mais uma unidade federal e não parte do Amazonas. Talvez nessa ânsia pela autonomia esteja a origem da rivalidade entre amazonenses e paraenses.

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