quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Museu Etnográfico Crisanto Jobim

Instituto Geográfico Histórico do Amazonas
Eu e minha amiga Anália Ferreira Silva fomos visitar o Instituto Geográfico Histórico do Amazonas (IGHA) semana retrasada. Quem nos apresentou tudo, além de nos ajudar a pesquisar os documentos de seu arquivo, foi nossa amiga Olga Almeida. Ela estava com dor na garganta e pedimos para ela nos apresentar o IGHA. Sim, abusamos da coitadinha. Fiquei com pena dela, tamanho era o esforço para falar, mas depois passou (a minha pena, não a falta de voz dela, claro).
Não vou falar de toda a visita e nem do arquivo hoje, por causa da falta de tempo. Falarei aqui somente do Museu Crisanto Jobim que fica nos fundos do IGHA. Em primeiro lugar, quem foi Crisanto Jobim (1879-1940)?
Desenho que fiz da foto de Crisanto Jobim do livro Manaus, Entre o Passado e o Presente (1999) de Durango Duarte.

Pesquisei e descobri umas coisinhas sobre ele: Crisanto Maria de Souza Moreira Jobim nasceu em Anadia, uma pequena cidade de Alagoas e começou sua carreira em Maceió como guarda de alfândega. Chega em Manaus para assumir o posto de escriturário da Delegacia Fiscal do Amazonas em 1915. Ocupou cargos importantes como a Secretartia da Prefeitura de Moura (hoje parte dos municípios de Barcelos e Coari) e a Secretaria Geral do Estado logo após a rebelião tenentista de 1924.
Por formação, Crisanto era engenheiro agronômo, mas possuía um grande interesse pelos povos indígenas. Passou a estudar Etnografia e Arqueologia. Chegou até a fundar um instituto antropológico chamado de Colégio Martius (homenagem ao naturalista alemão que passou pela Amazônia no século XIX).
Crisanto tentou construir uma espécie de coleção de objetos e material etnográfico. Nomeou sua coleção de Museu Rondon. Não se sabe muito bem quando ele começou a funcionar. Já na década de 1926, o IGHA manifesta interesse em comprar o acervo do pesquisador. Com os cinco conto de réis fornecidos pela Câmara Federal como auxílio para o IGHA, a instituição finalmente o compra em 1934. O museu só foi ser reorganizado em 1976, com a ajuda da Fundação Joaquim Nabuco e da Universidade do Amazonas. Mesmo assim nem todo o acervo foi catalogado. Em 1982, em homenagem á Crisanto a diretoria do IGHA nomeia o acervo com o seu nome.
Museu Etnográfico Crisanto Jobim. Foto de Olga Almeida.
Vamos ao Museu em si: ele está localizado nos fundos do IGHA e ocupa três salas. Logo na primeira temos uma maquete do que seria a Vila da Barra (atual Manaus) nos tempos da colônia. Como era de se esperar, lá está o Forte de São José do Rio Negro. Pode se ver os caboclos secando a carne do pirarucu, os soldados andando pela vila, as casas de taipa ao fundo. Enfim, se fosse falar dos detalhes ficaria aqui o dia inteiro. Basta dizer que é muito curioso. A maquete foi construída por Alfredo Loureiro e funcionários dos Laboratórios Reunidos.
Ao redor vemos as lanças, arpões, arcos e flechas indígenas. O mais interessante é uma pedra de quartzo meio oval a qual os Dessana acreditavam ser a avó do Universo. Na sala ao lado estão as urnas funerárias. Desde as menores até os fragmentos das gigantescas. Junto com elas, amoladores primitivos e pedras lascadas.


A terceira sala se desvia um pouco da temática indígena: lá estão vários retratos autografados de celebridades (Churchill, Álvaro Maia, Virgínia Lane, etc), algumas fotos da Manaus antiga e inúmeros animais empalhados. Um armário gigantesco, cheio de compartimentos onde podemos ver couros de sucuris, crânios de jacarés, ovos de pássaros e os próprios pássaros empalhados, divide a sala com a parede de quadros. Essa parte lembra muito os velhos gabinetes de ciências dos naturalistas, onde se guardavam as mais variadas espécies de plantas e animais. Claro que os objetos e animais empalhados aqui servem mais como curiosidade e enfeite do que artefatos científicos. E quanto aos quadros, tenho quase certeza que eles pertencem ao acervo do IGHA e não propriamente do Museu Rondon. São interessantes porque, juntos, parecem uma espécie de relicário de uma Manaus que não era mais a da Belle Epóque, mas pretendia ser cosmopolita ainda.

Enfim, o Museu Crisanto Jobim é muito interessante. Andar por ele pode ser divertido, aprendemos algumas curiosidades, mas para o pesquisador, professor ou mero interessado em História ele é um prato cheio para se falar de uma época em que a Antropologia dava seus primeiros passos no Brasil e na Amazônia. Lá vemos aquele que era considerado o objeto de estudo por excelência (o universo indígena) da Antropologia de então e um pouco do contexto de seus "pesquisadores" - homens que tinham profissões tradicionais e origens sociais abastadas, mas que pela curiosidade de se compreender uma cultura vista como "exótica" começaram a dar os primeiros passos da etnografia na região. Homens como Crisanto Jobim.

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