Como era gostosa a utopia!
A política estava em tudo. Cultura e política.
A Manaus daquela época não vivia mais a mitologia dos tempos da borracha, com a história de acender o charuto em nota de cem mil réis. O papo de "ouro negro" já era; os arrivsitas mais espertos já haviam abandonado a região apressadamente. Ficaram os que não puderam sair e mais aqueles que optaram por ficar. Manaus, nestes anos sessenta, até meados da década, foi uma cidade morna e provinciana, esquecida no coração da floresta amazônica.
Nouvelle Vague, Cinema Nova, Neo Realismo, Índio, Maconha, Sartre, Juventude Transviada. Tentativas de fugir da inocência, da desinformação, do isolamento. Signos da modernidade.
Pensava-se até mesmo em libertar a Amazônia do Brasil e fazer uma República Socialista. A senha era esta: "O Uirapuru está cantando". Outra utopia, como outras, até com raízes históricas, pois a Amazônia nos duzentos anos que precederam a Independência, sempre manteve relações diretas com Portugal. Na realidade, o Grão-Pará era uma espécie de Vice-Reinado. A notícia da Independência só chegou lá para os meus bisavós mais de um ano depois. E não foi só uma mera questão de distância, mas de resistência em relação á Independência. Lusitanismo e nativismo em permanente tensão. A Cabanagem como outro signo de revolução.
Narciso Júlio Freire Lobo, jornalista e poeta amazonense, no livro A Tônica da Descontinuidade: Cinema e Política em Manaus nos Anos 60. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1994. p. 11.
parabens pelo blog.muito enriquecedor.
ResponderExcluire ainda com texto do amigo narciso lobo