segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Águas de Setembro

Memorial do 11 de Setembro
Domingo os atentados ás Torres Gêmeas e ao Pentágono completaram dez anos.
Muita coisa mudou em dez anos. Primeiro, o terrorismo, que já é figura antiga, mudou de cara. Colocou o turbante do fundamentalismo islâmico. Segundo, vários mitos cairam: a invulnerabilidade dos EUA foi por água á baixo; a idéia que muita gente nutria de que a história havia chegado ao fim com o término da Guerra Fria então nem se fala.
É verdade que depois do 11 de Setembro, os EUA ficaram mais paranóicos que antes e seu sistema de segurança se tornou quase uma camisa-de-força, mas aquela imagem de país altivo, polícia do mundo, que foi conquistada no século XX tinha sido abalada. E seria abalada de novo, mas na economia nas crises de 2005 e 2008. E continua abalada ainda hoje com a crise do dólar.

Francis Fukuyama, cientista político norte-americano.
Um sujeito chamado Francis Fukuyama escreveu um artigo na década de 1990 dizendo que aquele era o fim da História, porque com o fim da Guerra Fria, não haveria mais nenhum movimento social importante. O neoliberalismo era o melhor dos mundos, todo mundo estava feliz, a globalização está aí pra unir as pessoas, etc. Muita coisa ocorreu depois do artigo de Fukuyama, mas de todas, 11 de Setembro foi um soco na fuça das teorias que queriam enterrar a História.
Por um lado, novas teorias mais inconvenientes ainda foram adotadas. Samuel Huntington, ainda nos anos 90, dizia que após a Guerra Fria o mundo entrava em uma nova era: as guerras não seriam mais ideológicas (capitalismo x comunismo), mas culturais (Ocidente x Oriente). Quando descobriram que a Al Qaeda estava por trás dos ataques, muitos viram Huntington como um profeta. O problema é que essa teoria esquece que os conflitos no Oriente Médio não são só culturais, mas políticos e econômicos, como sempre foram (ou o petróleo e os ditadores árabes não tem nada a ver com essa história?) - sobre o Oriente Médio de ontem e de hoje, ver aqui.

Liberdade, escrita em árabe e inglês.
Dez anos depois, o Oriente Médio tá na boca de todo mundo de novo, mas de uma forma diferente. Não se fala mais em guerra e terrorismo, o Oriente Médio não parece mais ter a cara do Osama Bin Laden ou do Mubarak, mas várias caras. Não se sabe ainda pra onde ele vai, o que se sabe é que ele está se rearranjando com suas próprias pernas (até um certo ponto, claro). E seja para onde for, não vai ser mais como antes.
Barak Obama
Dez anos depois, um presidente negro ocupa a Casa Branca. Obama foi eleito justamente pela esperança de que os americanos tinham no novo. Depois de confiarem num presidente conservador que mandou seus filhos para uma guerra não para se vingar dos atentados, mas para conseguir petróleo, os americanos decidiram partir para algo novo. Acabou que Obama não foi uma mudança tão radical assim: o desemprego continua e a crise econômica também. Só a política exterior mudou um pouco. Obama é um falso brilhante? Em parte, sim, muitas de suas promessas foram mera politicagem. Por outro lado, outras ele realmente queria fazer e não conseguiu graças ao Congresso (a maioria pertence á oposição) que barra todas as medidas.
O conservadorismo parece um fantasma que nunca desaparece. Em muitos momentos, o próprio EUA se aproximou muito dos governos fundamentalistas que tanto desaprovam. Os debates acalorados e os comentários apelativos dos articulistas de muitos meios de comunicação indiretamente foram responsáveis por quebra-quebras e até uma tentativa de assassinato de uma senadora. E o que dizer do buylling que gerou massacres não só nos EUA, mas na Noruega, Finlândia, etc?

Perfil na rede social Facebook de Anders Breivik, atirador norueguês que fez um atentado na primeira metade desse ano.
Se formos avaliar bem, essa década foi palco de mudanças cada vez mais repentinas e nem tão promissoras assim. Me arrisco a dizer que as forças ocultas tem sido os grandes protagonistas nesses dez anos. Por forças ocultas não me refiro á sociedades secretas malignas ou entidades demoníacas (como tantas teorias da conspiração teimam em ver por trás de todas as mudanças), mas á organizações que agem nas sombras como grupos terroristas, cartéis e até agências de anti-terrorismo. São ocultas porque a maioria de seus membros são anônimos ou se escondem sob mil identidades e utilizam os mais variados métodos para atingir seus fins. A Al Qaeda tinha um rosto: Osama Bin Laden. Os EUA tinham a esperança de ao matá-lo poderem desnorteá-la, no entanto, parece que ela se utiliza disso para parecer mais assustadora ainda. Como neutralizar um inimigo que não tem face, que pode ser qualquer um? É tentando responder essa pergunta que muitas organizações contra o terrorismo tomaram medidas que por vezes quebraram o direito á liberdade e á privacidade de muita gente.
Tenho um amigo que á cada notícia de um novo avanço científico se petrifica de medo. O raciocínio dele é o seguinte: esse troço que descobriram ou que fizeram será mais cedo ou mais tarde usado contra nós! Daí que ele tem pesadelos com a engenharia genética e a nanotecnologia. E não duvido que se elas caírem nas mãos de terroristas, bandidos ou pessoas ambiciosas seus sonhos se tornarão realidade. Segundo o filósofo polonês Zygmunt Bauman vivemos num mundo onde tudo é líquido (no sentido de ser fugidio, efêmero) até o medo. O medo que temos hoje do terrorismo já não é o mesmo medo de amanhã, que pode ser sobre a violência nas grandes cidades, epidemias descontroladas ou tragédias naturais, depende do que a correnteza nos trouxer.
Enfim, isso tudo são apenas algumas lembranças e reflexões que as águas de setembro podem nos trazer.

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