Indivíduos I de Maria Burgaz. |
O historiador britânico Jim Sharpe inicia seu artigo sobre a História Vista de Baixo lembrando da importância da Batalha de Waterloo, a derrota de Napoleão Bonaparte para a Inglaterra. Fazer História Vista de Baixo não é menosprezar a importância desse acontecimento, mas abordá-lo de uma outra forma. por exemplo, usando as cartas de um jovem soldado raso á sua amada. Cartas onde ele registra o cotidiano dos batalhões ingleses, a região em que está acampado e a própria batalha.
Bertold Brecht, poeta alemão, já se perguntava onde estão na História os responsáveis por construir as pirâmides. Só se ouve falar em quem comandou sua construção e não em quem participou dela efetivamente. É o caso do nosso soldado raso. Seu nome era desconhecido até Sharpe usá-lo como exemplo para abrir esse artigo.
O primeiro estudo de História Vista de Baixo, segundo o autor, vem de Edward Thompson com seu artigo History from Below (História vista de baixo) para uma revista britânica em 1966. Ali ele propõe que se faça uma história da classe trabalhadora inglesa que fale dos líderes e das organizações trabalhistas, mas não só delas. Fazer uma história que aborde também o trabalhador não engajado, afinal ele também é um trabalhador e faz parte dessa classe.
Na década de 1970, o estudo do historiador francês Emmanuel LeRoy Ladurie sobre denúncias de bruxaria numa pequena vila do Norte da França gerou um best-seller: Montaillou (o nome da tal vila). Por meio de processos da inquisição, ele pode ver como os seus moradores viviam e como reagiam á tais acusações.
Na mesma década surgiria outro estudo de História Vista de Baixo que se tornaria um best-seller: O Queijo e os Vermes de Carlo Ginzburg. Um moleiro italiano que tem suas próprias idéias sobre a criação do mundo é investigado pela Inquisição e através desse caso curioso, Ginzburg demonstra como era a cultura na Itália Moderna.
Há ainda muitos trabalhos, mas esses três são os fundamentais quando se fala em História Vista de Baixo. Eles demonstram como a história oficial esconde preciosidades como essas. Ladurie e Ginzburg trabalharam com documentos oficiais, processos da inquisição, e através de uma boa crítica - uma leitura á contrapelo- conseguem achar grupos sociais que foram escondidos pelo discurso oficial. Thompson utilizará num livro posterior (A Formação da Classe Trabalhadora Inglesa) vários tipos de fontes, sejam das organizações trabalhistas ou do próprio governo.
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