Em 1 de junho desse ano, junto com a mensagem de que o IBAMA tinha concedido a licença ambiental para a construção da Usina de Belo Monte, foi divulgado na mídia uma foto do Cacique Raoni chorando, ao saber da notícia. Raoni teria desmentido tudo no seu site alguns dias depois: "Eu não chorei por causa da autorização de construção e o começo dos trabalhos no canteiro de obras de Belo Monte. O tanto que eu viverei, eu continuarei a me bater contra essa construção (...) será a presidente Dilma Rousseff que chorará, eu não. Eu quero saber quem deu essa foto e propagou essa falsa informação (...) será preciso que a presidente Dilma me mate em frente ao Palácio do Planalto. Lá, somente, vocês poderão construir a Barragem de Belo Monte".
Alguns dizem que a foto foi tirada em 2002 durante o funeral de Orlando Villas-Boas, outros, contudo, alegam que Raoni estava participando de um ritual em homenagem á todos os falecidos da comunidade. Em todo caso, mais uma confusão da internet. Mas, quero aproveitar a oportunidade e discutir a tensão que a construção de uma usina hidrelétrica anda gerando não só na região em que vai ser implantada, mas também na mídia (principalmente internacional).
O projeto da Usina Hidrelétrica de Belo Monte já é antigo, foi criado na ditadura militar, contudo não foi implantado por conta das tensões acirradas que gerou. Raoni, líder da etnia Kaiapó, foi fundamental nesse processo: através de protestos nacionais e internacionais, o velho chefe conseguiu convencer o todo-poderoso Ministro da Viação e Obras Públicas, Mário Andreazza, a engavetar Belo Monte.
Durante o governo Lula o projeto foi ressuscitado. Por quê? Quando o novo presidente do Paraguai, Fernando Lugo, assumiu o poder começou a atacar a quantia injusta de energia que a Usina de Itaipu (construída no Rio Paraguai pelo Brasil em cooperação com o país vizinho na década de 1970) destinava á seu pais - quase que 90% da energia vinha para o Brasil. Com medo de perder uma das fontes de energia mais preciosas, o governo começou a pensar em outras soluções. Energia eólica? A produção de energia não é tão regular e abrangente assim. Energia nuclear? Apesar de Angra III está sendo construída, a tendência é não investir tanto em energia nuclear, por conta dos gastos excessivos e do perigo ao meio-ambiente. A solução, para o governo, deveria ser uma usina hidrelétrica. Belo Monte por Itaipu: elas por elas.
Não que Itaipu passe a ser somente dos paraguaios, mas ter uma outra usina complementando a energia é uma medida de segurança. E agora o projeto ganharia um bom argumento: a busca por energias limpas. No entanto, o impacto ambiental que a construção dessa usina no interior do Pará pode produzir é enorme. Não só o impacto ambiental como também social: comunidades indígenas do Xingu e ribeirinhos teriam de ser transferidos para outras áreas. O Parque do Xingu foi construído na década de 1960 com a ajuda dos irmãos Villas-Boas, reunindo diversas etnias, muitas transferidas de seus locais de origem por conta de conflitos de terra e de construção de rodovias. Os povos que acostumaram a viver ali teriam de ser transferidos para outra localidade, ainda incerta.
O governo diz que a Usina trará empregos para a região, principalmente para a cidade de Altamira, e que as transferências e indenizações serão feitas com cuidado, sem falar que os impactos ambientais não serão tão grandes assim. O problema é que a população pobre local suspeita que as mudanças serão boas para um pequeno círculo de pessoas (alguns empresários locais) e não para toda a comunidade, como sempre vem acontecendo no interior do país. Principalmente quando essa mudança implica em destruir o modo de vida dessa comunidade. Não se sabe ainda para onde serão transferidos e se isso realmente vai ser feito direito, com indenização e tudo mais. Para a comunidade indígena a questão se torna mais problemática ainda, já que a mudança seria muito radical: após décadas vivendo naquelas terras teriam de se mudar mais uma vez, certos de que serão explorados fora das reservas.
Raoni descobriu há muito tempo que a melhor maneira de se ganhar uma batalha hoje é ganhar a opinião pública. Por isso, há mais de 20 anos vem divulgando a causa indígena e os problemas que ela vem encontrando no Brasil principalmente no exterior. Raoni tornou-se conhecido, aliás, por participar de turnês com o cantor Sting, quando este participava de uma campanha dos direitos humanos internacional. O que é bizarro é justamente isso: Raoni é mais famoso lá fora que aqui dentro. Penso que isso demonstra a própria falta de interesse do brasileiro com a questão indígena. Muitos ao assistirem as notícias nos jornais sobre as manifestações contra Belo Monte não entendem o porque disso tudo, afinal é só uma usina.
Por outro lado, a opinião pública internacional se interessa com a questão indígena só até certo ponto. Ainda se enxerga o indígena com aquele exotismo. Convidar Raoni para falar na França sobre a questão indígena, ao meu ver, é uma estratégia do governo francês de propagandear uma imagem de que é multicultural e tolerante, apesar de proibir que as mulheres muçulmanas utilizem véu e que comunidades ciganas sejam restritas á determinados guetos. Na hora de pressionar o governo brasileiro para procurar outra alternativa para Belo Monte, nenhum país "simpático" á causa indígena se manifesta. Vimos á pouco tempo o diretor James Cameron defender o fim de Belo Monte. Uma iniciativa um tanto isolada e suspeita (afinal, ecologia se tornou palavra de ordem, justificando até certos imperialismos).
Reforma agrária, questão indígena, ecologia e crise energética: tudo parece se embolar quando se trata de Belo Monte. Uma solução adequada, contudo, ainda não foi achada para essa série de impasses.
O governo diz que a Usina trará empregos para a região, principalmente para a cidade de Altamira, e que as transferências e indenizações serão feitas com cuidado, sem falar que os impactos ambientais não serão tão grandes assim. O problema é que a população pobre local suspeita que as mudanças serão boas para um pequeno círculo de pessoas (alguns empresários locais) e não para toda a comunidade, como sempre vem acontecendo no interior do país. Principalmente quando essa mudança implica em destruir o modo de vida dessa comunidade. Não se sabe ainda para onde serão transferidos e se isso realmente vai ser feito direito, com indenização e tudo mais. Para a comunidade indígena a questão se torna mais problemática ainda, já que a mudança seria muito radical: após décadas vivendo naquelas terras teriam de se mudar mais uma vez, certos de que serão explorados fora das reservas.
Raoni descobriu há muito tempo que a melhor maneira de se ganhar uma batalha hoje é ganhar a opinião pública. Por isso, há mais de 20 anos vem divulgando a causa indígena e os problemas que ela vem encontrando no Brasil principalmente no exterior. Raoni tornou-se conhecido, aliás, por participar de turnês com o cantor Sting, quando este participava de uma campanha dos direitos humanos internacional. O que é bizarro é justamente isso: Raoni é mais famoso lá fora que aqui dentro. Penso que isso demonstra a própria falta de interesse do brasileiro com a questão indígena. Muitos ao assistirem as notícias nos jornais sobre as manifestações contra Belo Monte não entendem o porque disso tudo, afinal é só uma usina.
Por outro lado, a opinião pública internacional se interessa com a questão indígena só até certo ponto. Ainda se enxerga o indígena com aquele exotismo. Convidar Raoni para falar na França sobre a questão indígena, ao meu ver, é uma estratégia do governo francês de propagandear uma imagem de que é multicultural e tolerante, apesar de proibir que as mulheres muçulmanas utilizem véu e que comunidades ciganas sejam restritas á determinados guetos. Na hora de pressionar o governo brasileiro para procurar outra alternativa para Belo Monte, nenhum país "simpático" á causa indígena se manifesta. Vimos á pouco tempo o diretor James Cameron defender o fim de Belo Monte. Uma iniciativa um tanto isolada e suspeita (afinal, ecologia se tornou palavra de ordem, justificando até certos imperialismos).
Reforma agrária, questão indígena, ecologia e crise energética: tudo parece se embolar quando se trata de Belo Monte. Uma solução adequada, contudo, ainda não foi achada para essa série de impasses.
Publiquei seu texto no facebook, blz?
ResponderExcluirBeleza, Carlos. Se puder me passar o link eu agradeço. Abços.
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