Ontem conversava na faculdade com minha amiga Maria Lucirlei Barbosa sobre a consciência histórica, entendendo com isso aquele senso de que tudo ao nosso redor tem uma história.
Cirlei dizia que cresceu numa cidade relativamente recente, Vilhena, de um estado também recente, Rondônia, e por isso nunca pensou como essa cidade foi construída, pois presenciou a maior parte desse processo. Como tudo era recente, não havia o que falar sobre o passado. Por isso quando veio para Manaus ficou um pouco chocada com tantos monumentos antigos convivendo com a modernidade. A faculdade ajudou a entender isso e do estranhamento inicial veio a compreensão.
Vilhena hoje. |
Eu partilho uma experiência semelhante: cresci em um bairro do Rio de Janeiro chamado Sepetiba que não é tão recente assim (já existia desde os tempos do Império), mas que só sofreu grandes transformações a partir das últimas décadas do século passado. Para mim, Sepetiba sempre existiu e não pensava que ela poderia ter uma história. Não havia muitas referências ao passado da cidade, a não ser nos nomes das ruas, por isso nunca me perguntei o que tinha vindo antes do momento em que vivi ali. Sabia que no Rio de Janeiro tinha acontecido mil e um fatos, mas não pensei que Sepetiba estava envolvida neles. O que me despertou esse senso de que o bairro podia ter uma história foi minha passagem por Taubaté, onde a história se faz muito presente nos casarões dos barões do café que ainda estão de pé e até nos armazéns da antiga indústria têxtil local.
Sepetiba hoje. |
Engraçado essa nossa visão de que as coisas parecem terem sempre existido, que nosso bairro e nossos familiares são tão naturais como o vento ou a água que não paramos para nos perguntar como eles se formaram, como chegaram até aqui, o presente. O historiador José Honório Rodrigues chamava essa visão de "eterno presente" e dizia que ela era uma das formas de alienação do homem comum mais poderosas, porque quase não se percebe quando ela começa. A História tem como função justamente acabar com essa alienação, fazer enxergar para além do imediato para compreender o mundo ao redor e saber o que fazer para melhorá-lo.
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