domingo, 18 de setembro de 2011

Um poema sobre a morte

SONETO ABERTO SOBRE A MORTE
Alcides Werk (1934-2002)



Hoje é dia de festa nesta casa:

festa dos círios e das lamparinas.

Um corpo magro sobre a mesa, e a porta

de esteira aberta para os companheiros.



Beatas, terço, cafezinho, estórias,

o choro inútil da mulher sozinha,

a promessa do céu dos escolhidos

e uma herança de palha e de abandono.



Brasileiro, do norte, agricultor.

Semeou, semeou a vida inteira,

fez o campo florir por tantas vezes,



alimentou mil pássaros vadios,

foi sempre bom, mas nunca teve sorte,

e se vestiu de trapos para a morte.


Alcides Werk

Nenhum comentário:

Postar um comentário