terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Nicholsonianas


Ele foi indicado ao Oscar pelo menos uma dúzia de vezes. E não há desculpa para você não conhecê-lo. Jack Nicholson emplaca sucessos dos anos 60 até hoje. Se você não o viu como o marcante Coringa de Batman (1989), pelo menos o conhece pelo insano doutor de Tratamento de Choque (2003) ou então pelo sinistro mafioso de Os Infiltrados (2006).
No texto de hoje resolvi fazer uma homenagem enumerando aqui os seus melhores filmes e aqueles que não foram tão bons assim. A tarefa parece fácil, só parece. Porque é difícil dizer no meio de tantos bons filmes qual é o melhor ou o "menos bom", digamos assim. Mas vamos lá!

OS MELHORES
1- Um Estranho no Ninho (1975)

É antes de tudo uma obra prima pela sintonia de seus elementos (roteiro, atores, diretor, etc.) e Nicholson aqui nos presenteia com um anti-herói hipnótico e bem humano. Não há como não se simpatizar com o malandro que se faz de louco para escapar da cadeia que do nada se vê numa batalha épica com as regras do sanatório. Em tempo, esse filme é um marco na luta anti-manicomial.

2- O Iluminado (1980)

"Muito trabalho e pouca diversão, fazem do Jack um bobão". Tradução livre de uma das muitas frases emblemáticas de Jack Torrance, um escritor que vai com sua família para um hotel isolado passar o inverno. Mas o hotel começa a influenciá-lo de uma forma muito estranha. Baseado na obra de Stephen King, O Iluminado é um suspense clássico. É interessante ver a transformação gradativa de Jack, muito bem interpretada por Nicholson.

3- Melhor Impossível (1997)

Uma das raras comédias românticas que realmente me divertiu. Nicholson faz o neurótico e irritante escritor Melvin Udall que se apaixona por uma garçonete (Helen Hunt) enquanto toma conta do cachorro do seu vizinho gay (Greg Kinnear). Udall pode ser classificado como "o canalha que amamos" e pode ser considerado como o pai do badalado Dr. House. É interessante ver como os demais atores não deixam a peteca cair, equilibrando o impacto das atuações.

4-Easy Rider: Sem Destino (1969)

Outro clássico! Aqui temos dois jovens motociclistas (Dennis Hopper e Peter Fonda) percorrendo os EUA para chegar ao carnaval de Nova Orleans. No meio do caminho encontram um advogado beberrão (Nicholson) que parece ser tão louco quanto eles. Embora todos os três já fossem grandes amigos antes do filme, ver a naturalidade com que se relacionam em cena - principalmente Hopper e Nicholson - vale a pena. Isso sem falar do roteiro fantástico, uma declaração de amor á liberdade numa época tão... "careta".

5-As Confissões de Schmidt (2002)

Dizem que existem dois tipos de atores: aqueles que se transformam por completo e aqueles que imprimem a cada personagem um pouco de sua própria personalidade. Muitos encaixam Nicholson no segundo tipo, mas esse filme me convenceu do contrário. Aqui ele interpreta um homem totalmente diferente de si. Schmidt é um tímido aposentado controlado pela mulher que tem problemas com a filha e que vê a cada dia a morte se aproximando de si. É uma comédia, mas também é um drama. E você vê Nicholson patinando por esses dois gêneros em todos os momentos com muita desenvoltura. Pra mim foi a prova de que ele não se acomodou.

6-Chinatown (1974)

Nos lisérgicos anos 70, um filme noir parece meio anacrônico. Mas Roman Polanski aceitou o desafio e produziu essa obra já clássica. Aqui vemos Nicholson como o detetive Jake Gittes tentando entender o que está acontecendo ao seu redor. Era intencional provocar no espectador aquele estranhamento, como se estivéssemos flutuando no ar em meio á tantos mistérios, e Nicholson, embora seja desse mundo, reflete um pouco dessa nossa reação. Principalmente naqueles momentos em que sua paciência explode (haja visto a cena em que Faye Dunaway revela sua verdadeira relação com a menina). Faye está linda e ótima. John Huston, sogrão de Nicholson, não fica atrás também.

...E OS NÃO TÃO BONS ASSIM
1-Sangue e Vinho (1996)
Um drama familiar e um grande roubo. Esse é o roteiro de Sangue e Vinho. No entanto, era de se esperar que a parceria Bob Rafelson e Jack Nicholson (que resultou no cultuado Cada Um Vive Como Quer) produzisse algo melhor. Nicholson faz um bandidão que junto com seu parceiro (Michael Caine) planejam um roubo, mas seu filho (Stephen Dorf) vai lutar para impedi-lo. Os motivos do rapaz envolvem mais vingança que ética. Não é um péssimo filme, é apenas medíocre, esquecível.


2-Marte Ataca (1996)
Para mim é um dos mais fracos filmes de Tim Burton. Pode até ser divertido, mas não justifica uma atuação tão "feijão com arroz" do mestre Nicholson como presidente Dale. Aliás, ele faz dois papéis no filme: o presidente e um oportunista chamado Art, esse sim me pareceu uma pequena amostra do que ele poderia oferecer ao filme.



3-Duelo de Gigantes (1976)
Decepção é a palavra certa pra definir esse filme. Direção de Arthur Penn (Bonnie e Clyde e Pequeno Grande Homem), trilha sonora de John Williams e o encontro de dois monstros sagrados do cinema: Brando  e Nicholson, criador e criatura. Nem o marketing ao redor desses dois nomes conseguiu salvar o filme. Por quê? Marlon Brando retalhou um pouco do roteiro, Nicholson tentou pular fora do projeto. O pouco compromisso de ambos resultou nessa história de diálogos obscuros. Esperava mais inclusive do confronto final entre ambos. Mas vale a pena ser assistida pelos raros e breves momentos em que Nicholson e Brando se encaram.


4-O Corvo (1963)
No início de carreira o jovem Nicholson fez muitos trabalhos ingênuos. É dessa época a sua pequena aparição na primeira versão da Pequena Loja dos Horrores (1960) e este filme aqui. O Corvo é uma adaptação livre da obra de Edgar Allan Poe, um pretexto para colocar lado a lado três grandes nomes do cinema de terror: Boris Karlof, Peter Lorre e Vincent Pryce. Nicholson faz uma ponta como filho do sinistro Peter Lorre. O roteiro é pobre, mas é um filme divertido.

5-A Chave do Enigma (1990)
Outra decepção. A sequência de Chinatown prometia muito mais. Até mesmo por ser um projeto do próprio Nicholson (ele dirigiu este filme) que não fez feio em Com a Corda no Pescoço (1978). Aqui o motivo parece ser o roteiro pouco criativo e uma direção pouco original. Talvez por venerar o mundo do cine noir Nicholson tenha errado na mão, feito algo muito mais reverente que criativo. É interessante ver que Jake Gites continua o mesmo, apesar de tanto tempo depois.

6- Tratamento de Choque (2003)
Se em Confissões de Schmidt ele provou topar qualquer desafio, aqui vejo um Nicholson no piloto automático, fazendo um dos muitos papéis que o celebrizou: o homem excêntrico e debochado que carrega os filmes nas costas. Tá certo que é uma comédia de Adam Sandler, mas ele poderia nos surpreender. Acho divertido até como ele e Sandler disputam as risadas do público. 

Mesmo os seus trabalhos mais fracos funcionam como um bom entretenimento. Eu diria que sua média fica entre o "excelente" e o "regular". Não é um artista de altos e baixos. Enfim, é apenas a minha opinião. Mas filmes são o que não faltam na carreira desse grande ator que mantém um ritmo de uns três filmes por década. Eu poderia sugerir centenas deles: Com a Corda no Pescoço, A Última Missão, Profissão: Repórter, Laços de Ternura, Antes de Partir, Tommy, etc. Ultimamente ando interessado em ver seus filmes menos conhecidos como A Honra do Poderoso Prizzi (1985) ou Cavalgada no Vento (1965).

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