quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Conceitos

O historiador lida com conceitos. Para interpretar a realidade ele deve sempre se munir de conceitos. Conceitos que o ajude a entender um personagem, decifrar um momento ou compreender um processo. O mundo dos conceitos, porém, é muito vasto.
Carlo Ginzburg no seu livro Andarilhos do Bem (1966) usa o conceito mentalidades para explicar como as práticas culturais de camponenses de uma certa região da Itália confundidas pela Inquisição com bruxaria eram na realidade resquícios de uma cultura oral, pagá e rural. No entanto, no seu livro mais famoso, O Queijo e os Vermes (1976), elege como conceito maior a circularidade de idéias para explicar como um moleiro pode ter tantos argumentos para a criação do mundo diante do tribunal da Inquisição. Desde então Ginzburg tem renegado o conceito de mentalidades e defendido a circularidade de idéias. Por quê?
Definir mentalidades é complicado, mas vamos tentar: tudo aquilo que uma civilização pensa e se manifesta em práticas culturais pode ser entendido como uma mentalidade. A mentalidade é a permanência, afinal ela muda muito pouco com o decorrer do tempo.
Circularidade de idéias significa, por sua vez, um intercâmbio entre a cultura erudita e a cultura popular. Afinal, as classes possuem culturas próprias, mas nada impede que algumas práticas culturais sejam apropriadas por outra e resignificadas.
Ginzburg acredita que mentalidades era um termo que tinha conquistado os historiadores, mas que não tinha uma força, nem uma coerência adequada. Primeiro, porque admite um ritmo de tempo menor que pode ser confundido com uma forma de atemporalidade. Arriscando assim cair na mesma armadilha do estruturalismo. Em segundo lugar, porque mentalidades supõe um conjunto de pensamentos e sentimentos únicos para toda uma sociedade. Ou seja, ao eleger mentalidades como algo presente em todas as pessoas, independente de sua classe social, caíasse no risco de se menosprezar as relações sociais em si.
Por isso, Ginzburg adotou o conceito de circularidade de idéias, pois ele admite mudanças históricas (com temporalidades diferentes, é claro) e reconhece a importância das classes sociais. Os conceitos são assim: se multiplicam, se aperfeiçoam, etc...

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