Quando ainda estava em Taubaté na minha procura por um tema acabei por esbarrar no nome do monsenhor Antonio Nascimento Castro (1857-1942). Na maioria dos jornais falava-se nele. Á medida que me aprofundei na pesquisa regional descobri que ele era não só um importante homem de imprensa (polemista, principalmente), mas um hábil político.
Nascido em São Luís do Paraitinga, de pai desconhecido (o que levantou suspeitas de sua paternidade ter vindo de um padre local chamado Francisco Calasâncio), Nascimento Castro tinha, até onde sabemos dois irmãos: José Valois de Castro (1856-1939) e Calasâncio de Castro. Valois também veio a se tornar cônego e um dos mais importante nomes do Partido Republicano Paulista, sendo deputado federal e senador diversas vezes.
Nascimento Castro estudou no Seminário Episcopal de São Paulo, ou seja, teve uma formação romanizadora (a romanização ou ultramontanismo era parte de um movimento da Igreja Católica que pregava á volta á ortodoxia e á liturgia e visava expandir a influência da Igreja, diante da ameaça do liberalismo e do socialismo). Em 1881 veio para Taubaté onde se tornou vigário da paróquia de São Francisco das Chagas, hoje conhecida como Igreja Matriz.
Em pouco tempo se tornou uma das figuras mais importantes da comunidade, não só por o seu peso simbólico como o vigário da cidade, mas por suas ações na imprensa e na política.
Nascimento Castro tinha muita admiração pela literatura e pela apológética (formas de defender a ortodoxia religiosa), por isso se envolveu na imprensa. Primeiro passou a colaborar com o jornal conservador O Noticiarista, fundado em 1888, com artigos sobre a Virgem Maria, as liturgias católicas, além de atacar personalidades liberais e maçônicas da cidade. Em 1906 ajudou a fundar o jornal A Verdade, que se dizia um jornal eminentemente católico, e ali assinava artigos virulentos contra o poder municipal, então nas mãos dos liberais. Finalmente em 1910 também participa da fundação do jornal oficial da recém-criada Diocese de Taubaté (formada em 1908), O Lábaro, o qual foi o redator-chefe até a sua morte em 1942.
Na política destacava-se a sua ação em nome do grupo mais conservador, reunido em torno do Visconde de Tremembé, e que tinha como principais porta-vozes os irmãos Câmara Leal. Nascimento Castro foi nomeado vereador em 1892 e se tornou intendente municipal por ocasião de uma viagem forçada que o intendente eleito teve que fazer. Participou, na Câmara, das obras para revitalizar a rede de esgoto da cidade e a iluminação, mas o fato mais polêmico foi, sem dúvida, o seu pedido de 2 contos de réis para reformar a Igreja Matriz. Polêmico porque suscitou um debate entre os liberais e conservadores, aqueles dizendo que a Câmara não tem esse dever para com a igreja, uma vez que a República é um estado laico e estes alegando que a religião católica era parte da própria identidade nacional, sendo impossível separá-la dos nossos deveres cívicos. Nascimento Castro foi implacável, mas os 2 contos de réis não vieram e isso gerou um grande descontentamento na elite local, cindindo até os próprios liberais.
A ação de Nascimento Castro também foi significativa no caso do Visconde de Tremembé. O nobre tinha se envolvido em uma luta com o operário alemão Augusto Kreye, por causa das cabras dele terem invadido a propriedade do Visconde. A discussão terminou em tentativa de assassinato -o Visconde deu um tiro em Kreye, mas pegou em seu chapéu. Kreye abriu um processo contra o nobre, apoiado principalmente por Eugênio Guisard (irmão do industrial Félix Guisard que tinha idéias socialistas), mas o grupo conservador fez de tudo para "melar" as audiências. Inclusive Nascimento Castro, que pediu para verem a ficha do operário na capital, onde ele esteve antes, e ao descobrir que havia sido preso por agitação consegui prende-lo com a ajuda das autoridades paulistanas. O processo acabou em um acordo entre ambas as partes, tão desgastado estava o assunto.
Nascimento Castro, como podemos ver, é um personagem muito rico, pois analisar suas ações nos abre um leque de possibilidades de analisar Taubaté em meados da República. Vimos aqui apenas dois desses aspectos de sua vida, a imprensa e a política, mas existem muitos outros como a educação (participou da fundação e organização de muitas escolas como o Externato São José, o Instituto de Agricultura e Comércio, dentre outros) e a questão social (afinal ele tinha fundado um Centro dos Operários Católicos). De qualquer maneira, Nascimento Castro, desconhecido hoje na memória local, começa a ser compreendido á luz de seu tempo pelo trabalho de grandes pesquisadores como Isnard Albuquerque Câmara Neto, Mauro Castilho Gonçalves e Tiago Donizette Cunha. Espero um dia contribuir para essa compreensão.
Nascido em São Luís do Paraitinga, de pai desconhecido (o que levantou suspeitas de sua paternidade ter vindo de um padre local chamado Francisco Calasâncio), Nascimento Castro tinha, até onde sabemos dois irmãos: José Valois de Castro (1856-1939) e Calasâncio de Castro. Valois também veio a se tornar cônego e um dos mais importante nomes do Partido Republicano Paulista, sendo deputado federal e senador diversas vezes.
Nascimento Castro estudou no Seminário Episcopal de São Paulo, ou seja, teve uma formação romanizadora (a romanização ou ultramontanismo era parte de um movimento da Igreja Católica que pregava á volta á ortodoxia e á liturgia e visava expandir a influência da Igreja, diante da ameaça do liberalismo e do socialismo). Em 1881 veio para Taubaté onde se tornou vigário da paróquia de São Francisco das Chagas, hoje conhecida como Igreja Matriz.
Em pouco tempo se tornou uma das figuras mais importantes da comunidade, não só por o seu peso simbólico como o vigário da cidade, mas por suas ações na imprensa e na política.
Nascimento Castro tinha muita admiração pela literatura e pela apológética (formas de defender a ortodoxia religiosa), por isso se envolveu na imprensa. Primeiro passou a colaborar com o jornal conservador O Noticiarista, fundado em 1888, com artigos sobre a Virgem Maria, as liturgias católicas, além de atacar personalidades liberais e maçônicas da cidade. Em 1906 ajudou a fundar o jornal A Verdade, que se dizia um jornal eminentemente católico, e ali assinava artigos virulentos contra o poder municipal, então nas mãos dos liberais. Finalmente em 1910 também participa da fundação do jornal oficial da recém-criada Diocese de Taubaté (formada em 1908), O Lábaro, o qual foi o redator-chefe até a sua morte em 1942.
Na política destacava-se a sua ação em nome do grupo mais conservador, reunido em torno do Visconde de Tremembé, e que tinha como principais porta-vozes os irmãos Câmara Leal. Nascimento Castro foi nomeado vereador em 1892 e se tornou intendente municipal por ocasião de uma viagem forçada que o intendente eleito teve que fazer. Participou, na Câmara, das obras para revitalizar a rede de esgoto da cidade e a iluminação, mas o fato mais polêmico foi, sem dúvida, o seu pedido de 2 contos de réis para reformar a Igreja Matriz. Polêmico porque suscitou um debate entre os liberais e conservadores, aqueles dizendo que a Câmara não tem esse dever para com a igreja, uma vez que a República é um estado laico e estes alegando que a religião católica era parte da própria identidade nacional, sendo impossível separá-la dos nossos deveres cívicos. Nascimento Castro foi implacável, mas os 2 contos de réis não vieram e isso gerou um grande descontentamento na elite local, cindindo até os próprios liberais.
A ação de Nascimento Castro também foi significativa no caso do Visconde de Tremembé. O nobre tinha se envolvido em uma luta com o operário alemão Augusto Kreye, por causa das cabras dele terem invadido a propriedade do Visconde. A discussão terminou em tentativa de assassinato -o Visconde deu um tiro em Kreye, mas pegou em seu chapéu. Kreye abriu um processo contra o nobre, apoiado principalmente por Eugênio Guisard (irmão do industrial Félix Guisard que tinha idéias socialistas), mas o grupo conservador fez de tudo para "melar" as audiências. Inclusive Nascimento Castro, que pediu para verem a ficha do operário na capital, onde ele esteve antes, e ao descobrir que havia sido preso por agitação consegui prende-lo com a ajuda das autoridades paulistanas. O processo acabou em um acordo entre ambas as partes, tão desgastado estava o assunto.
Nascimento Castro, como podemos ver, é um personagem muito rico, pois analisar suas ações nos abre um leque de possibilidades de analisar Taubaté em meados da República. Vimos aqui apenas dois desses aspectos de sua vida, a imprensa e a política, mas existem muitos outros como a educação (participou da fundação e organização de muitas escolas como o Externato São José, o Instituto de Agricultura e Comércio, dentre outros) e a questão social (afinal ele tinha fundado um Centro dos Operários Católicos). De qualquer maneira, Nascimento Castro, desconhecido hoje na memória local, começa a ser compreendido á luz de seu tempo pelo trabalho de grandes pesquisadores como Isnard Albuquerque Câmara Neto, Mauro Castilho Gonçalves e Tiago Donizette Cunha. Espero um dia contribuir para essa compreensão.
Olá Vinícius,
ResponderExcluirTudo bem?
Me chamo Tancy Mavignier, sou jornalista e estou escrevendo um capítulo de um livro, um perfil sobre o Monsenhor Nascimento Castro. Estou buscando informações, já li a tese do prof. Isnard, textos do Lábaro e uma monografia. Você é historiador? Gostei muito da imagem, queria saber é de autoria sua a ilustração do Nascimento Castro? será que vc concederia para usarmos no nosso livro? Muito Obrigada, Tancy
Olá, Tancy, tudo bem e você?
ResponderExcluirSim, eu sou pesquisador de história, inclusive meu trabalho de conclusão de curso seria sobre o Monsenhor Nascimento Castro se não tivesse me mudado de cidade. Esse desenho fiz apenas para ilustrar o post, mas posso conceder sem problemas para o seu livro. Se puder me informar melhor sobre o seu livro, qual será a sua abordagem, por exemplo, agradeceria muito. Desde já muito obrigado pela visita.
Abraços.
Olá Vinicius,
ResponderExcluirMeu e-mail é tancy.costa@yahoo.com.br
Na verdade estou escrevendo um perfil para um livro de memórias de jornalistas da região. A prof. Eliane Freire e Francisco de Assis estão organizando o livro. Estou escrevendo um perfil sobre Nascimento Castro. Por e-mail explico melhor o projeto. Mas, está relacionado ao NUPEC (Núcleo de pesquisa em Comunicação da Unitau. também sou pesquisadora mas em Comunicação. A abordagem principal é a atividade de Castro como jornalista e a atuação política. Obrigada. Gostei do blog!
Abraços